terça-feira, 30 de dezembro de 2008

2008 está acabando!!!!!!

Cheguei a desejar que esse ano acabasse o mais depressa possível, só para eu poder dizer que finalmente minha vida estava recomeçando. 2008 foi um ano paradoxal: ao mesmo tempo em que sofri demais, tive momentos maravilhosos, que nunca serão apagados de minha memória e menos ainda do meu coração.
Foi o ano em que o câncer resolveu voltar. E resolveu voltar com tudo, só para entrar em uma briga feia comigo. Voltou com toda sua crueldade, fazendo com que eu passasse por uma mastectomia, braquiterapia (é horrível, acreditem!) e quimioterapia (não desejo nem para o meu pior inimigo – que não tenho – o sofrimento que é passar por isso). Enfim, ele voltou, mas não foi para ficar. Do mesmo jeito que em 2003, eu o despachei com toda força, muito antes do tempo esperado quando recebi o diagnóstico. E, o mais importante de tudo, eu consegui vencê-lo sem perder o bom humor, a coragem de lutar, a garra que são características minhas. Tenho orgulho em dizer que enfrentei tudo com uma dignidade que eu mesma não imaginava existir em mim.
E, no meio desse turbilhão, resgatei amigos antigos e fiz novos, que foram extremamente importantes para minha recuperação. Acima de tudo, tive de meus pais o apoio que foi a base para que eu me curasse. Sem eles, não sei se eu teria agüentado tudo que passei. Também meus familiares estiveram sempre ao meu lado, fosse torcendo ou ajudando a cuidar de mim durante minha recuperação.
Perdi meus cabelos. Foi o pior de tudo durante esse ano, o momento em que acredito ter chegado ao fundo do poço e, ao mesmo tempo, ter saído dele. Porque sofri ao saber que ficaria careca e, quando me vi assim, percebi que meus cabelos eram tudo, menos a coisa mais importante que eu estava buscando: minha cura. E fiquei uma careca linda, as fotos estão aí para comprovar isso!!!!! Hoje já tenho cabelos, que estão ficando encaracolados: ironia para quem sempre teve o cabelo tão liso que nem grampo parava... risos...
Enfim, sofri mas venci. Ainda não terminou tudo, mas 2009 começa com bons presságios: meu aniversário já no dia 21, e a tão sonhada reconstrução mamária em março. Depois disso, é voltar ao trabalho e retomar minha vida. Se estou com medo? Nem um pouco, porque perto do que passei os novos desafios são nada. Espero manter em 2009 os amigos que fiz este ano, além de conquistar novos para meu já grande círculo. Ah, falta minha viagem ao Egito, mas essa ainda não sei quando vai ser. O importante é que EU SEI QUE VAI SER!
Que venha 2009 quente que eu já estou fervendo!!!!!

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Fim de ano

Faltando apenas 20 dias para o Natal e pouco mais para o fim do ano, queria dizer algumas palavras para lembrar este momento importante em nossas vidas.
Cheguei a desejar que 2008 acabasse logo e que eu esquecesse esse ano, porque achava que nada nele havia para ser lembrado. E hoje, avaliando tudo que aconteceu, vejo que 2008 foi, apesar de tudo, um ano bom para mim. Foi o ano em que descobri estar novamente com câncer, porém em tempo perfeitamente hábil de ficar curada. Foi o ano em que resgatei antigas amizades perdidas por causa de tempo e distância, em que fortaleci amizades existentes, e em que confirmei, mais uma vez, que o amor e a força de minha família são as coisas mais importantes da minha vida.
Foi um ano de luta, em que houve momentos de desânimo e tristeza, momentos esses rapidamente superados pela minha inesgotável vontade de viver. 2008 foi o ano em que amigos me mostraram gestos extremamente carinhosos durante meu tratamento, pessoas surgiram em minha vida do nada, e hoje fazem parte dela sem nenhuma chance de eu esquecê-las.
Encerro 2008 ainda não totalmente recuperada, mas já totalmente curada. Agradeço a todos que me acompanharam em todos os momentos bons e ruins desse ano. Principalmente aos meus pais, que fizeram o possível e o impossível para que eu ficasse curada. A minha família, que também esteve sempre presente. Aos amigos reais, aos virtuais, aos companheiros de comemorações, aos meus familiares, a quem esteve comigo nesta difícil porém vitoriosa luta. Agradeço também aos meus médicos, que tanto fizeram para que eu hoje pudesse estar escrevendo essas palavras. E agradeço muito a Deus por me dar, pela segunda vez, uma chance de recomeçar e, se possível, de fazer valer ainda mais minha vida.
E desejo a todos vocês um Natal cheio do verdadeiro amor que o menino Jesus trouxe há 2008 anos. E que em 2009 vocês todos continuem fazendo parte da minha vida, e que eu possa fazer parte das suas. Que o Ano Novo traga a todos nós muita paz, amor, felicidade, e principalmente SAÚDE, para que possamos viver todos os dias da maneira mais plena possível!

Um enorme beijo a todos,

Andréa

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Primeira plástica

Finalmente chegou o dia da primeira plástica! Agora são 21H59 de domingo, e estou ansiosa esperando que a cirurgia seja feita logo, e ao mesmo tempo tranqüila, sabendo que tudo o que eu tinha de fazer está feito, e agora falta apenas o plástico fazer a parte dele.
Não vejo a hora de que tudo acabe. Quando digo tudo é tudo mesmo... Porque essa ainda é a primeira plástica, chamada de simetrização, e vai ser feita no seio esquerdo, que não teve nenhum problema. O médico fará uma redução de tamanho, para ficar proporcional ao seio que será refeito. Na mesma cirurgia o expansor do seio direito será preenchido, e mais para frente (ainda não sei quando) será modelado e finalizado.
Estou feliz de estar chegando nessa parte do tratamento. Sim, porque considero as plásticas como parte do tratamento, afinal, se não tivesse tido câncer, eu jamais estaria me submetendo a elas. Pelo menos espero que o resultado fique mais bonito ainda do que já era!!!! Beijos a todos!

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Oficialmente curada!!!!

Finalmente recebi a notícia que esperava há seis meses: ESTOU OFICIALMENTE CURADA!!! Ontem estive com minha quimioterapeuta e hoje com meu mastologista, e ambos disseram que estou mais do que ótima. Assim como em 2003, consegui derrubar o câncer. Por mais que ele tenha tentado me amedrontar quando voltou, eu consegui fazê-lo ir embora novamente.
Não sei nem dizer direito como estou me sentindo... É um misto de vontade de gargalhar e sair gritando para todo mundo isso com lágrimas a todo momento surgindo. Dessa vez são lágrimas de muita, muita alegria!!!! Alegria por ver que o sofrimento passou, por perceber que, por pior que tenha sido fazer a quimio, foi graças a ela que hoje estou podendo ter toda essa felicidade, e alegria por ter tido apoio tanto da minha família quanto dos meus amigos durante todo esse tempo!
Desde a semana passada venho tendo aquela sensação de felicidade, de estar retomando a minha vida. Meu cabelo está crescendo, e não ligo mais de ficar sem peruca em barzinhos, coisa impensável para mim há menos de um mês. Fiz minha primeira depilação desde abril, o que significa que os efeitos da quimio realmente foram embora do meu organismo. Parece uma coisa idiota, mas só quem perde todos os fios do corpo sabe o que isso significa: VITÓRIA!
E estou “mais do que nunca” preparada para as cirurgias reparadoras que virão. Dia 10 encaro a primeira, e tenho certeza de que tudo ficará perfeito. Aliás, se bobear, vai ficar até mais bonito que antes!!!! Enfim, tudo está se encaixando. Não sei mais o que posso querer, mas sei que tenho muito a agradecer, principalmente a segunda chance que Deus me deu na vida. Vou tentar, de todas as maneiras, fazer o melhor uso dela!

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Desânimo

Pela primeira vez, desde que soube estar doente, me senti realmente desanimada. O motivo nem é tão grave assim, mas acho que na verdade ele apenas culminou um sentimento que volta e meia vem surgindo: a tristeza por tudo que aconteceu.
Hoje eu ia preencher meu expansor. É o segundo passo para a tão sonhada reconstrução, então imaginem como eu estava feliz com isso. Na verdade deveria ter preenchido o expansor pela primeira vez a semana passada, porém não foi possível achar a válvula onde o soro seria injetado nele e, para não correr nenhum risco, meu cirurgião plástico decidiu que hoje faria uma pequena incisão e somente então ia colocar o líquido.
Não fiquei chateada quando não deu certo a semana passada. Na verdade até achei engraçado quando o médico disse que isso nunca havia acontecido antes, mas que havia uma solução. Cheguei a brincar com isso: se não havia acontecido antes, é claro que teria de acontecer comigo!
Porém o que eu imaginava que hoje seria o começo real da reconstrução se transformou em uma frustração enorme. Novamente não foi possível encontrar a válvula, mesmo com a abertura feita. Meu médico e o auxiliar tentaram de todas as maneiras e, por coisa de 0,5 cm, não conseguiram definir com certeza se o que haviam encontrado dentro de mim era a válvula ou a costela. Nem pensem por um minuto que isso é barbeiragem ou algo do gênero, porque não é. Infelizmente a válvula está agora numa posição dificílima, e a solução será abrir o que já foi feito, encontrar a sua localização exata, e então injetar o soro fisiológico, que serve para expandir a pele e deixá-la pronta para a prótese que será colocada futuramente. Como farei a primeira plástica o mês que vem, na mesma cirurgia será feita a expansão. Um processo que deveria ser simples infelizmente ocorreu de maneira não esperada.
Não sei nem dizer o quanto fiquei frustrada! Se esse tipo de ocorrência fosse comum, talvez eu tivesse aceitado melhor. Mas, reforçando o que disse anteriormente, isso nunca havia acontecido antes com esse cirurgião. Conversando pouco depois com o mastologista, ele me disse que esse tipo de ocorrência é muito rara mesmo, e que infelizmente havia acontecido comigo.
Dessa vez estou sem espírito para brincar. Lembram quando a gente está estudando e o professor faz sorteio para ver quem vai apresentar o trabalho primeiro? Eu sempre dizia que nem precisava sortear, com certeza eu seria a primeira. Foi assim que me senti hoje: a primeira em algo que eu não queria ser a primeira. Sei que não é o fim do mundo, que mês que vem o expansor será preenchido... Mas queria apenas que tudo corresse da maneira tradicional: preenchimento no consultório, troca pela prótese e finalização da plástica. Comigo será diferente: uma cirurgia para o preenchimento do expansor, que não deveria ser necessária se tudo tivesse sido diferente.
E hoje, pela primeira vez em bastante tempo, acabei me questionando o por quê isso está acontecendo comigo. Não adianta neste momento alguém me falar que “Deus não dá a cruz maior que a gente pode carregar”, ou que “você é forte, por isso que as coisas são assim”, ou que “o pior já passou”... Neste exato momento estou triste, muito triste. Até sei que amanhã tudo passa, mas hoje estou me permitindo sentir assim. Mesmo sendo uma fortaleza, também tenho meus momentos de fraqueza. Hoje é um deles.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Depressão

Andei meio relapsa com o blog. Depois da última quimio, que me derrubou na cama uma longa semana, fiquei meio deprimida. Dizer a verdade estava bem deprimida. Depois de tudo, de cinco meses todos os dias pensando que eu tinha de seguir em frente, me deixei levar um pouco pelo medo dos exames que estarei refazendo o mês que vem. Medo de que alguma coisa aconteça e eu tenha de novamente fazer quimio. Medo de passar de novo por tudo que já passei e que não quero que ninguém passe, nem mesmo meu pior inimigo (que eu não tenho). Enfim, o medo normal que as pessoas que tiveram alguma doença grave têm quando tudo termina.
E, do mesmo que a depressão veio, ela foi embora. Levantei da cama terça dia 2, e dia 3 já estava fazendo as fotos para o Jornal de Piracicaba. Por sinal, a repórter Marcela Benvegnu soube traduzir maravilhosamente bem tudo o que passei. O mais legal de tudo é que a matéria teve uma repercussão super positiva, muita gente me escreveu e até uma mulher me parou no shopping para comentar que havia se emocionado com minha história.
Na sexta, para fechar a semana, saí com meus amigos comemorar o fim das quimios. Foi uma noite divertidíssima, onde o objetivo de todos era um só: dar risada e falar de coisas boas, deixando para trás todas as coisas ruins que aconteceram comigo nos quatro meses em que estive em tratamento. Valeu a noitada, galera!
E, para finalizar tudo, esta semana estive no cirurgião plástico e em novembro encaro a primeira cirurgia. O expansor começa a ser preenchido no fim deste mês, e depois então vamos ao trabalho de deixar tudo bonito. Não vou voltar a ser “original de fábrica”, mas com certeza voltarei às blusinhas sem alça e decotadas que sempre gostei de usar.
Se estou feliz agora? Sim, e muito. Do mesmo jeito que fiz com o câncer, mandei a depressão ficar longe de mim. E pelo jeito ela me obedeceu, porque desde a semana passada o que estou sentindo é só alegria!

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Fim das quimios

Hoje estou numa "felicidade irritante" ou, como disse uma vez Jamelão, "feliz que nem pinto no lixo", ou, como diz minha prima Zil, tendo de dar nó no sorriso para ele não sair do rosto. Amanhã, finalmente, termino as quimioterapias. Durante alguns dias estarei passando pela QFW (Quimio Fucking Week), mas é a última vez. Foram apenas quatro, número pequeno se comparado às pessoas que fazem o tratamento por anos, mas suficiente para me curar e me livrar, se Deus quiser, para sempre de ter um câncer novamente.
Todos vocês têm acompanhado desde o primeiro momento minha luta contra esta doença. Desde abril venho lutando contra ela e a cada dia me vejo mais forte. Mais forte porque consegui, pela segunda vez, sair dessa. Mais forte porque, mesmo quando veio o diagnóstico de uma situação grave, eu consegui dar a volta por cima e encarar a luta sem medo. E mais forte porque, nesse período, pude ajudar, com meu exemplo, muita gente que está passando pelo que passei, coisa que pretendo fazer mesmo quando tudo estiver definitivamente acabado.
Sinto como se estivesse entrando numa nova fase da minha vida. Tenho de refazer todos os exames e estou calma, com confiança de que tudo acabou realmente. E agora, alguns devem estar se perguntando, o que acontece? Tudo volta ao normal? Não já, porque ainda tenho as cirurgias reconstrutoras. Essas eu farei com gosto, na certeza de que estou nas mãos de um ótimo cirurgião, que me deixará tão bonita e perfeita quanto antes. E meu cabelo, que eu tanto sofri quando soube que ia perder, logo voltará a crescer. Pode até ser que mais forte e encaracolado... risos... Quem sabe estarei com um novo visual no fim do ano?
Penso em tudo isso e me sinto uma pessoa muito abençoada por Deus. Se eu não tivesse decidido fazer um exame antes do tempo, exame esse que seria feito apenas em outubro, jamais teria descoberto que estava com câncer de novo tão rapidamente e, quando isso ocorresse, a situação poderia ser mais grave. Àqueles que acreditam em milagre, eu digo que esse foi o milagre que houve comigo. E, por mais que eu tenha ficado de mal Dele no começo, hoje estou em paz e agradeço todos os dias pela minha cura, pela força que Ele me deu e por tudo de bom que recebi nesse período: ligações, visitas, abraços, carinhos de muita gente que eu nem mesmo imaginava que tivesse tanto amor por mim. Por pior que tenha sido, esse período também vai me deixar boas lembranças do quanto minha família e meus amigos estiveram incondicionalmente ao meu lado. Sou uma privilegiada por poder contar com tantas pessoas torcendo por mim. E espero um dia, em outra situação, poder retribuir tudo que todos fizeram por mim nessa fase tão difícil da minha vida.
Uma amiga que passou pelo que estou passando me mandou um texto sobre a quimioterapia. Faço dela as minhas palavras:

Adeus à quimioterapia

Hoje é dia de dizer adeus. Durante esses seis meses você foi uma amiga cruel, mas ainda assim, preciso lhe agradecer. Uma amiga que faz o mal para causar o bem... que machuca muito para curar... que destrói para salvar... Ainda sentirei sua presença nefasta durante muito tempo, mas o fato de dizermos adeus hoje me traz muita alegria... É a libertação de um tempo de muitas dores e sofrimentos, de muitas dificuldades e humilhações... mas que também propiciou muitas descobertas, muito fortalecimento espiritual. Colocando na balança, sei que o saldo foi positivo. Você me trouxe a cura, e de quebra, o crescimento, o entendimento. Despeço-me sem saudades, mas com toda reverência. E, embora eu não deseje nem ao meu pior inimigo que venha a experimentar você, que a sua atuação possa ajudar a curar milhares de outras pessoas mundo afora, enquanto a medicina não encontra uma forma menos agressiva de tratar desse mal. Adeus... E, apesar de tudo... muitíssimo obrigada...

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Falta só uma...

Olá povo!
Depois da QFW (Quimio Fucking Week) estou finalmente ótima. Mais importante que tudo: em menos de duas semanas acaba esse tormento e, se Deus quiser, nunca mais terei que encarar uma semana de enjôo e sem tomar água, apenas encarando gelo e comidinhas leves, com medo de qualquer coisa me fazer passar mal.
Ou seja, tenho dias tranqüilos pela frente, e mais uma semana ainda de sofrimento. Sofrimento esse que está acabando, após quatro meses de cirurgia, rádio e tratamento, tudo para ficar livre de uma vez do câncer. Pelos meus cálculos e pelas cirurgias reconstrutoras que ainda faltam, acredito que no começo de 2009 estarei zerada, comemorando meus 37 anos já de cabelo curto e com muita alegria por estar viva e SAUDÁVEL!
Enfim, é isso. Novamente estou aqui vivendo um dia de cada vez, e otimista que minha cura já alcançada está sendo apenas assegurada com as quimioterapias. Também otimista de que meu futuro, depois que tudo passar, será com certeza repleto de alegrias, com muita coisa boa a conquistar e a fazer pelos outros. Neste momento, resta apenas esperar a última quimio, e encarar seus efeitos com mais bom humor, afinal eles não são eternos!

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Independência

Olá pessoal...
Queria dizer que minha vida está, aos poucos, voltando ao normal... Tenho apenas mais duas quimios, mas já estou sentindo o gostinho de estar retomando, aos poucos, o comando do que posso ou não fazer.
Esta semana me permiti sair quinta, sexta e hoje. Olha eu baladeira de plantão de novo! E foi muito, muito bom, o sentimento que tive ao fazer uma coisa tão simples, mas que sempre me deu muito prazer: dirigir. E mais ainda com meu carro novo lindo maravilhoso! O melhor de tudo foi não depender mais de ninguém para me locomover. Poder sair ouvindo música, estacionar e ver que, apesar de a cirurgia ainda incomodar um pouco, dependendo do movimento, ela não me impede de ir e vir.
Pode parecer pouco, mas é muito para quem, nos últimos dois meses, dependeu dos outros para poder dar uma volta. Mais importante de tudo foi a sensação de liberdade que tive ao sair e voltar como sempre fiz, sem me preocupar que estou deixando alguém me esperando, que estava na DEPENDÊNCIA de alguém. Porque, ser independente, mesmo que aos poucos, é muito bom. E quem me conhece sabe que ser dependente, para mim, é algo inconcebível. Ainda dependo de ajuda para muita coisa, mas pelo menos posso ir e voltar sem ter de pedir a ninguém.
Aliás, tenho de agradecer muito ao meu pai, que tem sido meu "chofer" nestes últimos tempos, e também àqueles que, quando precisei, vieram me buscar em casa para sair.
Também tenho de agradecer minha mãe, que tem feito tudo para mim em casa, principalmente para que minha recuperação seja o mais rápida possível.
Queria aproveitar também e agradecer a todos vocês que, de uma forma ou outra, estão me dando uma força enorme para passar por tudo isso. Cada e-mail que recebo, cada telefonema e cada visita têm um significado especial. Cada gesto de apoio se transforma em uma energia positiva muito grande, que me impulsiona a terminar logo este tratamento, para que em breve minha vida volte ao normal. Sem meus pais, minha família, e meus amigos, não sei como teria conseguido chegar até onde cheguei neste momento.

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Ausência

Talvez vocês tenham estranhado meu sumiço, mas tudo tem uma razão de ser neste mundo. Minha segunda quimio definitivamente conseguiu me derrubar. Conseguiu, se isso era possível, ser pior que a primeira. Para começar, meu pânico de agulhas, que estava até controlado, ressurgiu com força total e foi preciso duas enfermeiras segurarem minha mão para que a tão temida picada pudesse ser feita. Não que eu estivesse sendo segurada por outras pessoas, mas o medo era tão grande que por puro reflexo eu acaba puxando a mão e com isso era impossível fazer a aplicação.
Depois passei mal, muito mal mesmo, durante quatro dias seguidos. Cheguei a pensar que, se todo o mal estar era uma maneira de Deus estar me castigando, que ele podia parar, porque eu já havia entendido o recado e com certeza me tornaria uma pessoa melhor. Melhor em que, me pergunto agora? Não roubo, não matei ninguém, sou honesta, trabalhadora, companheira (haja visto o número de amigos que tenho), enfim, não sou perfeita, mas não vejo defeitos que justifiquem um castigo. Claro que depois me toquei de que Deus não castiga ninguém que não mereça, e se tenho de passar por isso é porque ninguém pode estar em meu lugar.
Por fim, acabou tudo. Esta semana ainda fiquei com dor no corpo e desânimo, mas quarta-feira me animei e acabei até mesmo indo fazer um corte moderno em minha peruca, que ficou um show, diga-se de passagem. Ontem já dirigi meu carro novo pela primeira vez, e até mesmo saí à noite para um papo bem gostoso com meu amigão Celso. Hoje, se tudo der certo, estarei num happy hour com a Paulinha, para voltar aos velhos tempos de antes do câncer atrapalhar minha vida mais uma vez.
Câncer esse que já se foi, e tenho motivos para comemorar agora. Faltam apenas duas sessões para essa parte do tratamento acabar. Se tudo der certo, final de agosto me livrei da quimio. Depois, tem mais cirurgias, mas nada que me deixe deprimida. E, do jeito que a coisa está indo bem, fecharei 2008 com o saldo positivo: mais uma vitória contra essa doença, e minha saúde restabelecida para as festas de fim de ano. Aleluia!

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Fiquei uma careca lindona!

Olá pessoal!!!! Depois de muito sofrer, chorar, até sonhar com a queda dos meus cabelos, eles finalmente se foram ontem à tarde, com a passada de máquina zero pela cabeça. Quando pensei que ia sofrer de verdade, na hora em que me olhasse no espelho, toda a angústia que vinha sentindo desde que soube desse efeito da quimio passou. O melhor: fiquei uma careca lindona!!!!! Vou usar peruca sim, mas descobri que não me senti mal ao sair na rua hoje com lenço e depois com um chapeuzinho muito charmoso. Quem quiser olhar que olhe, estou fazendo tratamento e pronto!
Também descobri que tenho várias pequenas cicatrizes, resultados da minha infância serelepe (eufemismo para levada da breca ou "da pá virada")... risos... Minha mãe disse que eu vivia caindo de tanto aprontar, e a cada vez que ia ao médico ele perguntava de onde vinham tantos galos! Acho que agora sei de onde saiu esse meu espírito meio "fora do ar"... risos...
Pois é, amigos! Sofri o que tinha de sofrer, e agora acabou. Acho que na verdade eu canalizei para a perda dos cabelos toda a tristeza que estava sentindo por estar doente de novo. E descobri que minha força ainda continua intacta, ou melhor, até cresceu depois de ontem, e me fez sentir como está escrito em meu msn: curada, careca, lindona e FELIZ!

segunda-feira, 30 de junho de 2008

Efeitos colaterais

Fiz minha primeira sessão de quimio terça passada. Por mais que as pessoas que já passaram pelo problema tivessem me avisado, não imaginei que seria tão ruim. Melhor dizendo: ruim é a sensação de impotência que fiquei durante quatro dias, quando não conseguia levantar da cama e nem comer direito, além de chorar o tempo todo por causa da dor no corpo e da náusea incessante.
VOCÊ QUER LEVANTAR DA CAMA, QUER COMER, QUER SE SENTIR MELHOR. Mas, simplesmente, seu corpo não obedece. Ele permanece deitado e até mesmo o simples cheiro da comida é suficiente para que você tenha vontade de vomitar. O pior é ficar com essa vontade ininterrupta durante três dias, como aconteceu comigo. A hora em que consegui vomitar, mesmo sabendo que o correto era manter a comida no estômago, fez com que eu me sentisse totalmente aliviada. Nunca pensei que um dia ia ouvir meus pais me pedindo para comer. Afinal, como uma boa gordinha, sou chegada em um prato gostoso, bem temperado, e de preferência bem calórico. Mas nada do que minha mãe fez ou meu pai trouxe me fizeram ter vontade de comer. Olhar a comida me deixava mal. Colocar um bocadinho na boca era um sacrifício. Mas eu tentava, porque sabia que era para meu próprio bem.
E depois de um sorinho básico na veia e mais medicação para agüentar meu estômago revoltado, tudo passou. Estou agora na fase de recolhimento, ou seja, nada de se expor muito, porque estou com queda de imunidade. Mais três dias assim e tudo volta ao normal. Quer dizer, relativamente normal. Na outra semana tenho de estar ótima e, após 21 dias da primeira sessão, retomo o tratamento.
Serão mais três quimios combinadas, a vermelha e a branca. Para quem não entende, a vermelha é ferrada, daquelas que deixam a gente mal, mas que combatem mais eficazmente o meu tipo de problema. A cada 21 dias, uma sessão e, em setembro, essa parte terminou. Considerando todo o mal estar relatado acima, devo pensar que já conclui 25% desta fase do tratamento.
Para quem sempre se orgulhou de ter “estômago de avestruz” e “fígado total flex”, a sessão de quimio foi uma lição e tanto. Ainda assim, por mais duro que seja, faz parte da terapia e, como tal, será feita com a assiduidade exigida. Se vou passar mal na outra? Não sei. Apenas sei que, psicologicamente falando, estarei preparada para isso. Porque, apesar do mal estar, náusea, corpo dolorido e perda do cabelo, tem algo mais importante com que tenho de me preocupar agora: MINHA VIDA! E não vai ser uma quimioterapia que vai conseguir me fazer desistir dela, disso podem ter certeza!!!!!

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Vaidade

Parece uma bobagem enorme falar de vaidade num momento tão difícil na minha vida. Aliás, parece que, quando estamos doentes, as pessoas esperam que esqueçamos que, antes de ser um paciente, somos homens e mulheres que se preocupam com a aparência, que querem estar bem mesmo que seja numa cama, e que sofrem com as implicações que o tratamento contra o câncer acarreta em nosso corpo.
No meu caso, o que mais me incomoda, ou melhor, o que ainda não aceito de forma alguma, é a perda do cabelo. Fazer mastectomia não me afetou tanto quanto eu imaginava. É claro que a perspectiva de ficar sem um seio me assustava, justo eu que sempre me orgulhei de ser “original de fábrica” em meio a tantos silicones que existem hoje desfilando por aí. Foi um duro golpe, mas desde o início tratei de me acostumar à idéia de que vou ter de fazer uma reconstrução, fazer plástica no outro seio, e então tudo ficará bem.
Mas... perder o cabelo está me deixando, com perdão do trocadilho infame, com o “cabelo em pé”. Durante anos tive o cabelo bem curto, estilo “Joãozinho”, e em 2006 resolvi mudar o visual. Até crescer do jeito que eu queria demorou... Além de pouco, meu cabelo é fino, o que dificulta ainda mais o crescimento. Nunca havia dado muita bola para isso e, somente o ano passado, aos 35 anos, é que comprei o primeiro secador para mim. Antes, deixava secar naturalmente, e de repente me vi todos os dias preocupada em deixar as madeixas com uma aparência legal.
E então soube que ia ficar careca. Muita gente que ler isso pode estar pensando “puxa, mas que bobagem!”, mas eu digo que é fácil a gente pensar assim quando não está na situação de quem vai ficar careca. E eu, particularmente, tenho um problema sério quando encontro alguém em algum lugar público que sei que está careca por causa de quimio. Não que eu ache que a pessoa não tem direito de estar na rua, muito pelo contrário, mas sim porque sei como essa pessoa está se sentindo e, por mais que não queira, me pego sentindo pena do que ela está passando. E não quero, em hipótese alguma, que alguém sinta pena de mim.
Para remediar o que não tem remédio, mandei fazer uma peruca. Não é a mesma coisa, é claro, mas pelo menos minha vaidade boba, que hoje está se manifestando com tanta força, ficará menos abalada. E um consolo eu tenho: cabelo cresce. Pode demorar, mas como acredito que ainda tenho muitos anos de vida pela frente, isso não é problema!

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Agulhas

Tenho um problema muito sério com agulhas. Ou melhor, tenho uma enorme fobia de agulhas. O medo é mais forte do que eu e, por mais que as pessoas me digam que não vai doer (e nem dói muito mesmo), a simples visão da agulha chegando perto do braço para pegar a veia me deixa suando frio, com falta de ar, me faz chorar, ou melhor, dar escândalo mesmo no laboratório.
A perspectiva de fazer quimio não está me assustando tanto, afinal sei que é para minha própria cura definitiva que terei de encarar esse tratamento. Mas a idéia de que, a cada 28 ou 21 dias, terei de levar duas picadas para fazer a quimio me deixa transtornada. Como conseguir levar duas picadas no mesmo dia sem chorar, passar mal ou, o pior de tudo, sem a veia sumir, como ocorre normalmente quando faço exame de sangue?
Venho pensando nisso já há um bom tempo. Quem me conhece bem sabe que tenho fobia de agulha, mas ainda assim todo mundo me questiona como, eu sendo tão corajosa para tanta coisa, posso ter esse medo irracional de uma picada. Eu sei que a picada não vai furar meu braço, sei que não dói quase nada, sei que o calibre da agulha é pequeno... mas ainda assim suo frio ante a idéia de me deixar furar DUAS VEZES no mesmo dia.
Apesar disso, sábado já tive a minha primeira prova de como será minha coragem frente à agulha. Precisei fazer meu primeiro exame de sangue para poder começar a quimio. Para não ficar muito tempo no laboratório, pedi que mandassem a enfermeira em casa fazer a coleta. Na sexta-feira fiquei psicologicamente me preparando para a agulhada. Aliás, nem dormi direito pensando na agulha. Rezei tanto, mas tanto, que no sábado, quando a mulher chegou aqui, eu estava calma. Pela primeira vez, EM ANOS, ou melhor, DESDE QUE COMECEI A FAZER EXAMES DE SANGUE, o impossível aconteceu: a veia não sumiu, não chorei, não passei mal e ela conseguiu fazer a coleta de primeira. Só as mãos que suavam frio, mas tirando isso deu tudo certo. Será um sinal de que as preces de todo mundo estão dando certo? Tomara, porque eu mesma estou rezando para que esse medo se torne menos forte. Afinal, uma agulha não pode ser maior do que eu, não é mesmo?

quinta-feira, 29 de maio de 2008

Liberdade!

Nada como estar sem dreno e cateter para entender o exato significado da palavra LIBERDADE! Liberdade de poder tomar banho sem ter de tomar cuidado o tempo todo em não molhar fios ou então chutar o dreno, liberdade de poder andar sem ter de me preocupar em segurar o dreno o tempo todo nas mãos, e liberdade de poder sentar sem me preocupar se os fios do cateter não vão pressionar meu peito ou se o dreno está em um local onde não possa ser pisado por ninguém.
As coisas estão melhorando dia a dia. Já ando mais e, apesar de ainda ter de prestar atenção quando me movimento para não doer os cortes nem forçar o braço, tenho uma relativa autonomia para fazer coisinhas que não exijam muito esforço, como digitar, por exemplo.
A única coisa que cansa mesmo é ficar em casa... Perdi as contas de quantos filmes, séries e programas de televisão a que assisti nos últimos dias. Como estou com uma infecção, melhor não arriscar e sair de bobeira para me expor a possíveis bactérias. Neste momento pré-quimioterapia todo cuidado é pouco, então nada de sair de casa para a rua. Ou seja, minha vida resume-se a ler, olhar a Internet, assistir televisão e me distrair com os amigos que vêm me visitar. Ainda assim, está tudo certo. Prefiro me resguardar agora e depois fazer o tratamento sem problemas do que ter de ficar adiando o começo da quimio por causa de uma gripe boba, por exemplo.
É isso então, amigos. A cada dia que passa sinto que estou mais forte e mais decidida a enfrentar esse tratamento que não sei quando acaba. Uma notícia boa: minha biópsia deu que não há mais vestígio do câncer no meu organismo. Ainda assim, não posso deixar de fazer a quimio, para não haver o perigo de o câncer retornar. E isso, quem me conhece sabe, eu jamais vou deixar que aconteça, se depender de fazer todo tratamento que for necessário a minha saúde.

domingo, 18 de maio de 2008

Recuperação

Olá povo... Depois de quase 15 dias de ausência, estou aqui novamente para dar as últimas notícias da minha briga (que está quase ganha) com o câncer. Dentro das circunstâncias posso dizer que estou ótima. Esse “ótima” refere-se principalmente à retirada dos nove cateteres que estavam em meu peito e que saíram de cena na última sexta-feira, em mais um episódio que, tenho certeza, vou contar um dia rindo numa mesa de boteco.
A recuperação da cirurgia, nos primeiros dias, foi uma tortura. Não vou dourar a pílula não! Você sai do hospital com um peito parcialmente reconstituído, dreno, cateter e um monte de incisões, além de uma dor que, mesmo sem respirar, dói! E isso dura mais ou menos uma semana, até que a dor se torna tão constante que você consegue esquecer pelo menos um pouco que ela existe.
Dormir? Bom, para quem dorme de lado ou de bruços, deitar de barriga para cima é insuportável, né? Pois é assim que tenho dormido nos últimos 12 dias. Virar de lado sem chance, e de bruços nem em sonho. Então, as costas ficam em frangalhos, mas pelo menos eu descobri que consigo dormir nessa posição.
Apesar disso tudo, estou feliz que, em apenas um mês, passei por duas fases do tratamento. A primeira foi a cirurgia (um sucesso, segundo os médicos), e a segunda foi a braquiterapia, que fiz esta semana e já acabou. Dez sessões, duas por dia, e fim de uma parte do tratamento. Amanhã já marco minha consulta com o pessoal da quimioterapia e, em 15 dias, devo começar a fase considerada por muitos como a mais difícil dessa briga. Ainda assim, tenho certeza de que passarei por ela com muita força, principalmente com o apoio de minha família e meus queridos amigos. Continuo com muita fé que o câncer que existia já foi retirado do meu corpo, e o que estou fazendo agora é uma prevenção para que essa doença não volte nunca mais. Tenho certeza de que posso continuar a contar com vocês nesta nova fase do tratamento que se inicia.

segunda-feira, 5 de maio de 2008

A cirurgia

Agora não tem jeito: amanhã será feita a minha cirurgia. Se estou com medo? É claro que estou! Sou humana, e a perspectiva de tirar um seio, colocar cateteres e ainda por cima reconstruir o seio me dá um medo danado. Primeiro, de alguma coisa dar errado e eu morrer durante a cirurgia. “Imagine, não tem perigo!”, alguns de vocês vão dizer. Perigo tem sim, o que não posso é ficar imaginando que isso vai acontecer.
Segundo, medo de sair de lá feito um Frankenstein, toda remendada, sei lá como. Por mais que me digam que o resultado é muito bom, e eu sei que é bom, afinal estou nas mãos de um dos melhores cirurgiões plásticos de Piracicaba, ainda assim sei que no começo ficarei toda cheia de hematomas e feia. Bom, também quem vai olhar isso nessa altura do campeonato, não é mesmo?
E dá-lhe mais exames ainda hoje, mais um médico, mais conversa com o convênio. Essa noite já dormi mal, muito mal, mesmo com Rivotril na cabeça. A vontade é tomar umas 20 gotas para ver se o efeito é mais potente, e vence a minha insônia. Passar a noite acordada ou então acordando de tempos em tempos para pensar no assunto me deixa com o corpo todo cansado, a mente tensa e os músculos endurecidos.
Mesmo assim, apesar de tudo isso, estou aliviada por uma coisa: o tratamento vai finalmente começar. Cheguei ao ponto de partida, e dele agora só saio para ganhar a corrida. Então, a cirurgia é só o primeiro passo. Depois disso, vamos à rádio e à quimio, para chegar à tão desejada cura de uma vez por todas. Cura essa que, acima de tudo, depende de minha vontade e, se depender disso, já estou mais do que curada (mas não pronta para outra, que aí também já é demais!). Então, todo mundo rezando, orando, mandando energia positiva, colocando meu nome em estrelas, ou seja lá o que for, amanhã às 13h30. Sei que posso contar com vocês para vencer essa grande guerra que está se travando dentro de mim!

terça-feira, 29 de abril de 2008

Família

Acho que já está mais do que na hora de eu falar da minha família. A gente pensa mil coisas para dizer aos pais quando está doente, mas não sabe como se expressar. Engraçado, eu que sou tão boa para colocar as coisas no papel, não sei como falar com minha própria família! Acho que é aquela coisa de odiar família americana, que toda hora está falando “I love you” tão automaticamente que me faz travar para dizer esse tipo de frase sem me sentir num comercial ou num seriado enlatado.
Vamos lá. Tenho uma família grande. Quer dizer, em casa mesmo somos eu, meu pai e minha mãe, mas às vezes parece que tem um batalhão de gente aqui em casa falando, principalmente quando discutimos. Claro, porque discutimos, como toda família normal, às vezes por coisas ridículas, às vezes por coisas sérias. Aí tem meus irmãos, o Marcelo, que mora em Pira, e o Erick, que está no Rio. Tem também minha ex-cunhada, a Denise, e as sobrinhas amadas adoradas e veneradas pela tia coruja, a Juju e a Isa.
Aí vem o pequeno clã. São mais oito tios e tias vivos do lado da minha mãe (na verdade eram 11!), mais os cinco irmãos do meu pai (contando minha tia Sílvia), e mais sei lá quantos primos e primas e maridos e esposas dos primos e primas e primos de segundo e terceiro grau com quem tenho contato. Ufa! Haja gente!
O mais emocionante é saber que todo esse povo está na torcida por mim. Não somente pelos laços de sangue, mas por eu ser quem sou. Então tem as orações, as novenas, as promessas (ficar sem comer doce é duro, hein, Lolo?), as visitas, os telefonemas, os presentes (valeu pela Bíblia, Ju, com certeza vai me ajudar muito)...
O que toda essa gente não sabe é que essa força vem me ajudando pra caramba. Dos meus pais então, nem tenho com falar. São palavras de apoio, são pequenos e grandes gestos que me mostram que, por pior que seja a situação, eu vou sair dela. Não estou falando apenas do aspecto financeiro, que é claro ajuda bastante a gente a ficar mais tranqüilo nessa hora. Estou falando também da certeza absoluta que eles têm que vou ficar boa, principalmente por já ter vencido essa batalha uma vez. E acredito que, essa certeza que eles têm, está sendo passada a mim. A semana passada eu estava muito, muito triste. Mas esta semana já estou encarando tudo com mais força, assim como eles, que têm feito de tudo, mas tudo mesmo, para que eu me fortaleça e fique boa logo.
Queria ter mais palavras para agradecer, mas neste exato momento estou com vontade de chorar. E escrever chorando nunca foi meu forte. Então, as únicas palavras que posso dizer a toda minha família são: eu amo todos vocês (sem pieguismo nem parecendo frase feita) e muito obrigada por tudo que têm feito por mim. Meu maior agradecimento, sem dúvida, será a minha cura ao final dessa briga!

domingo, 27 de abril de 2008

Amigos de qualidade

Sempre me considerei uma privilegiada por ter vários melhores amigos. Sim, porque ter amigos é bom, mas ter vários melhores amigos é fantástico! E aqueles amigos então que se transformam nos irmãos que a gente escolhe, nem se fala! Entre esses eu destaco a Ana Maria, a Paula, o Ursão, o Tetê, a Zil, o Mateus, a Pri... Pessoas que fazem parte da minha vida há anos (sem contar os anos, que aí é sacanagem), sempre prontas a fazer qualquer coisa por mim, assim como eu por eles.
Mas, além deles, outras pessoas surgiram em minha vida ao longo dos anos e igualmente se transformaram em peças importantes para mim. Algumas mais recentes, outras mais antigas, algumas com quem fiquei anos sem contato e agora, quando descobri o câncer, ficaram sabendo e fizeram questão de entrar em contato para me dizer “olha, estou ao seu lado”. E como ficaram sabendo? Muitos por mim mesma, através de e-mail e do orkut, e outras através do amigo que está no orkut que reenviou o e-mail para outro amigo e assim por diante...
Seja lá como for, o fato é que tem muita gente torcendo por mim. E não só torcendo, mas buscando maneiras de fazer com que a minha dor, que somente pode ser vivida por mim, seja amenizada. Não posso transferir o que sinto a ninguém, posso apenas compartilhar meus sentimentos: medo, choro, tristeza... E tenho encontrado muitas pessoas dispostas a me ouvir, me dar um abraço, ou apenas passar a mão no meu cabelo enquanto choro por estar com câncer de novo.
Também tem os amigos que estão sempre me levando sair para arejar a cabeça. Tenho conseguido até que razoavelmente esquecer um pouco esse pesadelo quando estamos no bar ou seja lá onde for dando risada e jogando conversa fora. Olho para todos esses amigos, e nem sei como agradecer a um por um o que têm feito por mim.
Não tem como agradecer a Pri, que saiu correndo de Sampa e veio me ver assim que soube da doença. À Paula e ao Mateus, que estiveram ao meu lado na primeira batalha e estão mais unidos ainda a mim agora, mesmo o Mateus estando na Espanha. Ao Ursão, que acabou de sair daqui, vindo do Rio apenas para me visitar antes de eu ser operada. À Zil, que tem uma fé incrível e me diz palavras lindas na hora certa. Ao Celso, que já me viu chorar sabe-se lá quantas vezes, que foi o primeiro a saber do câncer, e ficou uma tarde toda me ouvindo, além de ter me estimulado a escrever sobre isso. À Ju, Sueli e Verinha, que têm se mostrado supercompanheiras desde que o pesadelo começou.
Queria citar o nome de um por um, mas não tem como. Mas queria que as pessoas que estão lendo meu blog acreditassem que o valor da amizade, que eu sempre prezei demais, é uma das forças mais importantes quando estamos em situações difíceis. Existe uma frase que diz o seguinte: “Quer saber quantos amigos você tem? Dê uma festa. Quer saber a qualidade deles? Fique doente”.
Eu, graças a Deus, tenho amigos de excelente qualidade. Estar com vocês agora tem me mostrado que, por pior que seja esse momento que estou vivendo, ele pode ser superado com todo amor e energia positiva que venho recebendo de nem sei quantas pessoas. E se, por um acaso, não estou conseguindo atender a todo mundo, é porque minha cabeça anda meio fora do ar esses dias. Mas aproveito esse espaço para, antes de qualquer coisa, agradecer a todos que estão ao meu lado, em mais essa briga que apenas está se iniciando. Amo muito todos vocês!

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Amigos de trabalho

Hoje fui ao jornal levar a documentação para minha licença médica e conversar com meus colegas de trabalho. Estava me preparando para isso desde o último dia 16, quando recebi a notícia do câncer, mas não esperava me emocionar tanto quanto me emocionei ao encontrar meus amigos, que estão sendo de uma solidariedade indescritível neste momento difícil.
Por mais que eu tivesse treinado para entrar e brincar com a situação, como sempre fiz com tudo, ver todos se levantando para me dar um abraço de boas vindas quebrou toda a couraça que eu havia colocado em torno dos meus sentimentos. E claro que chorei...
Esse um ano e meio de convivência com o pessoal do LIBERAL tem me mostrado muitas coisas boas. Eu já havia desistido de ser jornalista e estava fora da área havia dois anos e meio quando senti uma comichão em voltar a escrever. Poderia ter tentado uma assessoria de imprensa ou algo assim, mas a vontade era mesmo estar em uma redação de jornal. E, sem pensar em nenhuma razão especifica, mandei um currículo para lá, no dia 4 de setembro de 2006. Em 6 de setembro fiz o teste e, uma semana depois, estava integrada à equipe.
Equipe essa que me recebeu de braços abertos, mesmo eu sendo uma reiniciante na área. E descobri maravilhosos amigos nesse lugar: Leslie, Beto (conhecido de outros Carnavais), Luciano, Rê, Ju Reda, Valéria, Fabi, João, Paulo, Marcelo, Marcos... Cito esses por estarem mais próximos a mim, são aqueles com quem mais tenho papo, mas os outros também me são muito queridos.
E hoje, olhar para esse pessoal tão querido e saber que estarei fora da redação por sei lá quanto tempo, doeu... Doeu olhar minha bancada e ver que meu lugar estava ocupado por outra pessoa (claro, o jornal precisa continuar!)... Uma das coisas que mais me doeu foi quando a Leslie disse que estava se sentindo abandonada em nossa bancada, onde tantas risadas demos e confidências trocamos... A Rê chorando porque não posso ir ao casamento dela... Puxa, querida, como eu queria estar presente nesse momento tão importante em sua vida!
Doeu, mas ao mesmo tempo foi bom me sentir tão querida. Essas pessoas me mostraram hoje que, além do meu profissionalismo, o que estava fazendo falta na redação era a minha pessoa, seja pelas minhas brincadeiras, minha tagarelice, meu jeito espontâneo de conversar com todo mundo. E sei que, quando meu tratamento estiver terminado, essas mesmas pessoas estarão me esperando, novamente de braços abertos, para que eu possa continuar um trabalho que estava sendo muito bem reconhecido.
LIBERAL, essa é para vocês, obrigada pela força, e quero que saibam que a redação ainda vai ter muitas histórias a ouvir de mim!

Medo

Pela primeira vez em minha vida estou realmente com medo de morrer. Não é medo de sair de carro e dar de cara com uma carreta, mas medo de fazer todo esse tratamento e no fim ele não dar em nada. Medo de ser operada, ficar careca, vomitar sei lá quantas vezes, sentir dor, e no fim o câncer vencer. “Ah, mas não pode pensar assim, tem de ser otimista...”, as pessoas me dizem.
Claro que os amigos, família, e até mesmo gente que nem me conhece direito quer me dar forças. Ninguém vai chegar e falar assim “olha, que droga né, imagine se você faz todo o tratamento e morre”, até mesmo porque se alguém falar isso tem de ser muito cruel ou sem noção (existe gente assim, mas graças a Deus nenhum imbecil me disse nada disso até agora).
E o medo é uma coisa que a gente não controla. Todos os dias, desde o diagnóstico, anunciado na última quarta-feira, dia 16, que minha cabeça vem girando, girando, girando... Me pego pensando em tudo que não fiz ainda na vida, em lugares que não visitei, pessoas a quem devia ter dado mais atenção, amigos com quem perdi a amizade, seja por divergências ou porque a distância nos separou, e tento visualizar se devia ter feito alguma coisa diferente.
Costumo dizer que o que eu tinha de fazer errado eu fiz na época certa, ou seja, na adolescência e na faculdade. Mas será que eu fiz realmente errado, ou apenas estava imbuída do espírito que rege a maioria dos universitários? Aí me pego pensando se meus “erros” passados é que estão se refletindo agora em minha saúde. Será que se eu tivesse sido da geração saúde isso estaria acontecendo?
Também me pego pensando em quantas pessoas erradas deixei entrar em minha vida, pessoas a quem não devia ter devotado um único pensamento, quanto mais entregado a minha amizade sem nem pensar se elas realmente mereciam a consideração que devoto aos meus amigos. E não venha ninguém me falar que isso demonstra mágoa ou ressentimento, que são os causadores do câncer. Estou apenas pensando em tempo perdido, tempo esse que hoje para mim é extremamente valioso, tanto pela urgência com que quero começar essa batalha pela minha vida quanto pelos momentos que estou aproveitando agora, antes de iniciar meu tratamento.
Mas voltando ao medo. Ele fica dentro de mim gritando para sair o tempo todo. E às vezes ele grita alto, sabe? São momentos em que, sei lá, assistindo uma propaganda, do nada, me pego com os olhos marejados e pensando que talvez eu não viva o suficiente para ver minhas sobrinhas tão amadas formadas. Talvez eu não viva o suficiente para conhecer o Egito, meu sonho desde que me entendo por gente, ou então para conhecer o grande amor da minha vida. Sim, porque eu quero um amor para a vida toda, não estou falando de um marido, mas de alguém que esteja ao meu lado, que me complete e que eu o complete.
Medo de passar os últimos dias de minha vida fazendo um tratamento que pode se revelar inútil, que vai me deixar cansada, careca, deprimida... Ao invés de estar vivendo tudo aquilo que não vivi até agora.
E esse medo ruge... Acho que pior ainda é o medo de admitir que estou com muito medo. Medo de decepcionar as pessoas que vêem em mim uma pessoa forte, cheia de vida, de garra, que encara tudo sem destemor. Tá bom, eu tenho medo de um monte de coisas, de barata, injeção, insetos, fantasmas, escuro quando estou sozinha... Mas o medo de decepcionar as pessoas é mais forte que tudo isso. E continuo então silenciando os gritos que existem dentro de mim, com um silêncio ou um sorriso quando me dizem que vou vencer tudo isso. Faço até mesmo piadas de que vou sair do hospital turbinada e sem barriga. Mas no fundo, no fundo, estou morrendo de medo...

Burocracia

A gente espera que tudo se resolva da maneira mais rápida possível. Depois do diagnóstico, a vontade é ser operada, começar a rádio e a quimio, e rezar muito para que os dias passem voando, assim o tratamento termina e a vida retoma ao normal. Mas é claro que a burocracia dos nossos planos de saúde empata isso.
Dados o diagnóstico e a opção de tratamento (no meu caso não tem mais de uma opção, então é encarar e pronto), vamos às consultas com quem vai cuidar de mim, além do meu mastologista. Com o radioterapeuta foi tudo tranqüilo, tirando o fato de que os tais cateteres que serão colocados no lugar da operação são importados, custam caro pra caramba e serão pedidos ao convênio. Aí vem a busca pelo cirurgião plástico, já que vamos tirar um seio todo e colocar a gordura da barriga no lugar. Até que tem uma coisa boa nisso tudo: saio turbinada e sem barriga!
Ainda não vi o tal cirurgião, a consulta é amanhã, mas sei que ele é um dos melhores, se não o melhor, naquilo que faz. Depois dessa consulta, teoricamente, é ver o horário que bate na agenda dele com a do radioterapeuta e com o do mastologista. Enfim, três profissionais estarão cuidando para que eu tenha o maior sucesso na cirurgia.
Até aqui nada de burocracia. Mas hoje descubro que, para meu convênio liberar a cirurgia, tenho de passar por uma perícia médica! E que vem a ser a tal da perícia? Pelo que sei, levar todos os laudos médicos e um relatório do mastologista explicando o por que preciso da cirurgia. E para que tudo isso? Ainda não entendi, afinal, o auditor não vai me abrir de novo nem pegar o nódulo que foi ao laboratório para ele mesmo examiná-lo. O que ele vai fazer é ler um relatório médico, que está claramente explicando minha situação. Então, por que cargas d’água eu tenho de estar presente? Será que, olhando para a minha cara, ele vai saber ou não se estou realmente doente? Será que examinando meu seio externamente ele vai sentir a doença? Ou será que tudo isso existe apenas para que a gente se sinta ainda mais impotente do que se sente quando está com câncer?

quinta-feira, 24 de abril de 2008

A volta

Odeio a palavra câncer. Mas acho que odeio mais ainda eufemismos como “o problema” ou “aquela doença”. Afinal, câncer é uma doença grave e, independente do termo usado, representa uma situação para a qual ninguém, em sã consciência, se prepara ao longo da vida. A não ser que, como no meu caso, já tenha passado por ela.
É a segunda vez que me vejo enfrentando essa doença. Da primeira o baque foi grande, afinal, aos 31 anos, receber a notícia de um câncer de mama foi um choque. Ninguém quer ficar doente. Pode até ser que existam pessoas que achem “legal” ficar doente pela atenção que recebem e tudo o mais, mas nenhum ser humano normal quer ter câncer. E ter pela segunda vez, depois de cinco anos, é um choque muito, muito grande.
Nesses cinco anos de cura sempre fiz exames de controle a cada seis meses. Costumava dizer que tinha cinco meses de liberdade plena e um de tortura, enquanto ia à consulta e fazia os exames de controle da doença. Sempre me perguntava, nesse período, como seria minha reação caso o câncer voltasse. Mas, passados os exames, minha vida voltava ao normal e eu tratava de esquecer o assunto.
Dessa vez, contrariando a rotina normal, resolvi antecipar meus exames. Por que? Nem eu mesma sei. Talvez porque 2008 houvesse começado com mil expectativas positivas: meu carro novo, minha viagem ao Egito, novas amizades e, o principal: estava saindo da faixa de risco de uma recidiva, que é a volta da doença. Então, para ficar livre logo dos exames, resolvi encarar todos de uma vez, com a certeza de que somente voltaria ao médico em 2009, para mais um controle.
Um nódulo na mama direita me tirou o sono e, com o diagnóstico da recidiva, o chão em que eu estava tão firmemente tranqüila me foi tirado como se um tsunami houvesse passado sobre mim. No dia em que soube do resultado eu queria literalmente morrer. A perspectiva de encarar mastectomia radical, axilectomia, braquiterapia (um tipo de rádio) e quimioterapia, além de um tratamento de cerca de um ano, me pareceu pesada demais. E continua parecendo pesada...
Mas ainda estou no começo da luta. Um amigo muito legal, o Celso, me disse que ou encaro de uma vez e saio por cima disso, ou encaro de vez e saio por cima disso. Ou seja: não tenho opção. Não existe nenhuma alternativa mais bonita ou menos agressiva para esse tratamento. Não existe a chance de um milagre acontecer e alguém chegar e dizer que o exame está errado. O papel está lá, bem claro, com as letras dizendo que o câncer, quer eu goste ou não, voltou. Por que? Não sei.
Já me questionei duas mil vezes o por quê disso. Já pensei em largar mão do tratamento e fazer tudo o que eu tenho vontade, afinal, quem garante que vou sair dessa? E já pensei que vou sair dessa e ainda fazer muita coisa em minha vida. E cheguei à conclusão de que vou sair dessa e fazer ainda muita, mas muita mesmo, coisa em minha vida.
A primeira delas, é muito importante, é escrever este blog. Auto-ajuda, desabafo, maneira de driblar a tristeza... Não sei. Sei que o Celso me estimulou a colocar no papel o que estou sentindo. Ou melhor: a cutucar minha dor, para que eu possa falar sobre ela sem voltar a sentir toda essa tristeza. E vou contar tudo, meus medos, alegrias, derrotas e vitórias nesta luta tão injusta.