O assunto da
semana em quase todos os órgãos de comunicação foi a mastectomia dupla a qual a
atriz Angelina Jolie se submeteu há três meses, após descobrir, através de um
exame genético, que tinha 87% de chances de desenvolver um câncer de mama. Com
a cirurgia, ela não eliminou totalmente as possibilidades de vir a ter a
doença, mas reduziu o risco para apenas 5%. Em todas as mídias, vi matérias e
artigos sobre o assunto, a grande maioria com base científica e explicando
corretamente o procedimento, enquanto alguns buscaram apenas o sensacionalismo
barato para desmerecer a atitude dela em revelar o procedimento.
Como mulher
e ex-paciente do câncer de mama por duas vezes, acho que tenho um bom
conhecimento sobre o assunto. Tirar um seio, estando doente, foi uma das
decisões mais difíceis que tive de tomar em minha vida. Ou melhor, nem foi
decisão, porque os médicos já haviam dito que essa era minha única opção em
ficar curada. Mas eu tinha o direito de não fazer a mastectomia e continuar o
tratamento com radioterapia e quimioterapia. Claro que quis garantir o máximo
possível minha cura, e não hesitei em fazer a cirurgia. Foi triste? Muito, e só
quem passa por isso entende o sofrimento e as consequências de uma cirurgia
desse porte, que não se limitam ao aspecto físico.
Em muitos
dos textos que li e comentários sobre a decisão de Angelina, a tônica era a
mesma: um sentimento de despeito e até mesmo uma total falta de respeito com a
atriz, apenas por ela ser rica, famosa e bonita. Frases como “ela tem dinheiro,
coloca os seios que quiser depois”, “sendo rica do jeito que é, grande coisa,
se fosse uma pobretona do SUS (Sistema Único de Saúde) aí sim eu ia respeitar a
atitude”, “tirou para poder colocar silicone” (essa foi a mais ignorante de
todas!), mostram claramente que, por ser quem é, Angelina é uma pessoa que não
pode ter problemas e, se os têm, não pode sofrer por ter dinheiro.
A decisão da
atriz em tornar público seu procedimento – que inclusive já é feito no Brasil –
mostra para mim que, como qualquer mortal, Angelina tem seus problemas, seus
sofrimentos, suas decisões difíceis. O fato de ter dinheiro não a torna imune
às dificuldades da vida. A atriz viu sua mãe morrer aos 56 anos por causa de um
câncer. Por que então não se prevenir disso? Com certeza, evitar 100% ela não
pode, ou melhor, ninguém pode. Mas não nos prevenimos todos os dias contra mil
coisas, mesmo sabendo que outras podem acontecer? Ou vamos de encontro ao
risco, ou invés de evitá-lo quando conhecemos as chances de algo ruim
acontecer? Angelina evitou seu risco. Se vai ficar doente, somente o futuro
dirá. Mas ela, em um primeiro momento, fez a sua parte. Se fosse eu, com
certeza, teria feito a mesma coisa.
3 comentários:
Andréa Mesquita, só alguém com conhecimento de causa para falar com propriedade... as pessoas julgam sem ter a menor noção do que se trata...ficam espantadas, acham absurdo , como se a pessoa ficasse "procurando" exames mirabolantes para se multilarem pq acham bonito e querem chamar a atenção...sem saber que isso é uma decisão pessoal, amparada por multiplas especialidades médicas...e muitas vees só o monitoramento não é suficiente para descobrir o câncer em sua fase inicial...e não é balela passar por um tratamento oncológico...perfeita sua colocação!
Eu também tive o câncer de mama, e meu médico quis tirar só o quadrante e eu optei em retirar a mama. Se eu estivesse tido a chance de fazer este exame da Angelina Jolie também teria retirado a mama antes.
Franciele, gostaria de conversar com vc, urgente.Estou passando por este momento da escolha...
Meu e-mail: simonesobrinho@yahoo.com.br
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