terça-feira, 31 de maio de 2011

Dia Mundial Sem Tabaco

Importante matéria divulgada pelo Inca (Instituto Nacional do Câncer). Apesar de meio longa, traz informações importantes e pertinentes sobre o assunto.

Oito em cada dez homens que morrem por doença respiratória crônica no Brasil são fumantes

Índice é superior à média mundial, de cinco óbitos em dez. Ao todo, um milhão de fumantes sofrem de quadro crônico de males respiratórios no País.

A participação do tabagismo na mortalidade por doenças respiratórias crônicas entre os brasileiros está acima da média mundial: oito em cada dez homens que morrem por esses males são tabagistas.
Entre as mulheres, são seis óbitos a cada dez. A média mundial é de cinco em cada dez óbitos entre os homens e dois em cada dez entre as mulheres. Além disso, um milhão de fumantes brasileiros, de ambos os sexos, jovens e idosos, convivem com alguma doença respiratória crônica, associada ao ato de fumar.
Os dados, levantados pela Pesquisa de Tabagismo (suplemento dedicado à Saúde dentro da PNAD 2008), estão sendo divulgados em um estudo especial realizado pelo Inca (Instituto Nacional de Câncer), como parte da celebração do Dia Mundial sem Tabaco, que este ano tem a CQCT (Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco) como tema central. A CQCT é um tratado internacional da OMS (Organização Mundial da Saúde), assinado por 172 países, que se comprometeram a implementar suas determinações para reduzir o consumo do cigarro e demais derivados do tabaco.
O estudo revelou que os fumantes a partir dos 30 anos, grupo que pode ser diagnosticado com doenças respiratórias crônicas dentro do recorte estudado, sofrem 40% mais com essas doenças, se comparados aos não-fumantes.
As doenças respiratórias crônicas representam hoje a terceira causa de mortalidade por doença no Brasil, ficando atrás apenas dos problemas cardiovasculares e dos cânceres. Somente no ano de 2008, cerca de quatro brasileiros morreram a cada hora por complicações respiratórias crônicas.
“Ao levantar as informações estatísticas, é importante alertar que o tabagismo não está associado somente ao câncer. Os números demonstram que os brasileiros mais dependentes da nicotina dificilmente conseguem deixar de fumar, mesmo após serem diagnosticados como portadores de males respiratórios crônicos, agravando seu quadro de saúde”, diz a coordenadora da Divisão de Epidemiologia do Inca, Liz Almeida.
O médico pneumologista da Divisão de Controle do Tabagismo do Inca, Ricardo Meirelles, afirma que mesmo que esses males sejam incuráveis, o primeiro passo a ser dado, a partir do diagnóstico confirmado, é procurar um serviço de saúde para entrar num programa de cessação do fumo. “O tratamento é oferecido pelo SUS (Sistema Único de Saúde), mas é importante que o doente esteja disposto a parar de fumar”, diz o médico.
As informações também apontam um novo tópico para a pauta da Reunião de Cúpula da ONU (Organização das Nações Unidas), que será realizada em setembro deste ano, em Nova Iorque, e tem como mote o enfrentamento das DCNTs (Doenças Crônicas Não-Transmissíveis). A ONU recomendou aos seus países-membros que incluam diabetes, problemas cardiovasculares, doenças respiratórias crônicas e o câncer entre os temas do encontro, já que as DCNTs são consideradas um entrave para o alcance das Metas do Milênio. Essas doenças são responsáveis por 60% das mortes em todo o mundo, ou 35 milhões de óbitos por ano. Desses, 80% ocorreram em países em desenvolvimento.
“No Brasil, o tabagismo se concentra na população de menor renda e escolaridade. Isso faz com que essas pessoas fiquem sob maior risco de desenvolver Doenças Crônicas Não-Transmissíveis, dentre elas as doenças respiratórias crônicas, que muitas vezes as tiram do mercado de trabalho e as inserem em um ciclo vicioso de pobreza”, destaca o diretor-geral do Inca, Luiz Antônio Santini.
O Inca também constatou que os dependentes severos da nicotina, quando comparados aos tabagistas leves, sofrem mais de problemas como enfisema e bronquite (85% a mais). Ou seja: além de serem vítimas de males respiratórios e terem menor adesão ao tratamento, também têm maior dificuldade de parar de fumar, uma vez que utilizam o cigarro de forma mais intensa.
“Os problemas respiratórios crônicos são doenças que, apesar de terem controle medicamentoso, não são curáveis e, no caso dos fumantes, o quadro pode se agravar, já que a fumaça inalada piora o estado de saúde do doente, por isso a importância de deixar o cigarro de vez”, explica a coordenadora da Divisão de Controle do Tabagismo do Inca, Valéria Cunha.

Tabagismo passivo

Um estudo da OMS, divulgado no final do ano passado, sobre mortalidade devido ao tabagismo passivo em todo o mundo mostrou que, no Brasil, morrem cerca de 7,5 mil brasileiros todos os anos devido a essa exposição altamente evitável. Um exemplo que deveria começar em casa: pais tabagistas de crianças e jovens portadores de asma, doença mais presente na infância, passam para seus filhos cerca de 4,7 mil substâncias nocivas presentes na fumaça do cigarro.
“Crianças que sofrem de asma, filhos de pais fumantes e que são expostas à fumaça do cigarro estão mais propensas a ter crises de falta de ar, chiado no peito e tosse”, explica o pneumologista do Inca, Ricardo Meirelles.
O médico alerta ainda que o tratamento deve ser permanente, com cuidados relativos à administração das medicações e com o ambiente: “Os pais que fumam e têm um filho asmático devem saber que além de prejudicar seu organismo estão afetando diretamente a saúde dessa criança”.
No caso das gestantes tabagistas, o risco é dobrado: fazem mal à própria saúde e à do bebê. “Um cigarro fumado pela gestante aumenta os batimentos cardíacos do feto, devido ao efeito da nicotina associado ao monóxido de carbono, diminuindo a oxigenação”, explica Meirelles.
A pesquisa mostrou, ainda, que os adultos não-fumantes moradores de áreas urbanas e expostos ao tabagismo passivo tiveram alto índice de diagnóstico de doenças respiratórias crônicas: 30% a mais do que aqueles que não foram expostos à fumaça do tabaco.

Convenção-Quadro para Controle do Tabaco

Como parte das celebrações do Dia Mundial Sem Tabaco, a OMS orientou os países-membros a promoverem a Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco, destacando os benefícios de sua aplicação na saúde das pessoas. Com o tema “Três maneiras de salvar vidas”, enfatizou o trabalho de bombeiros e salva-vidas, associando-o às diretrizes da Convenção-Quadro e contrapondo-os aos malefícios do tabaco. No Brasil, o órgão responsável pela implementação da CQCT é a Conicq (Comissão Nacional para Implementação da Convenção-Quadro), que engloba 17 ministérios, já que os desdobramentos do tabagismo vão além do setor saúde. A secretaria-executiva da Conicq é ocupada pelo Inca.
O Congresso Nacional ratificou a adesão do Brasil à CQCT, em 2005. Grande parte das medidas da Convenção-Quadro já estavam implementadas no País na ocasião, o que hoje se traduz em resultados positivos, como a redução da mortalidade por doenças cardiovasculares, respiratórias crônicas e por câncer de pulmão entre homens. De acordo com a Vigitel (Pesquisa Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico), do Ministério da Saúde, o número geral de fumantes caiu nas capitais do País de 16,2% para 15,1%, entre os anos de 2006 e 2010. Apesar disso, o trabalho do país no controle do tabagismo é constante, já que ainda há determinações da CQCT para serem colocadas em prática.
“Uma das iniciativas é promover o aperfeiçoamento da Lei 9.294/96, que embora proíba fumar em recintos coletivos fechados, permite a existência de fumódromos. A Convenção-Quadro recomenda a total proibição do ato de fumar em recintos coletivos fechados como a melhor forma de proteção contra o tabagismo passivo. Acumulam-se estudos sobre os efeitos positivos das leis “ambientes 100% livres da fumaça de tabaco” para a redução das internações por doenças cardiovasculares em vários países que já a implementaram. No entanto, o projeto de lei do Senado Federal nº 315 que atende a esses objetivos e que lá tramita, desde 2008, ainda não foi votado, apesar de ter recebido parecer favorável nas comissões de Constituição e Justiça e de Assuntos Sociais”, considera a secretária-executiva da Conicq, Tânia Cavalcante.
Para marcar a data, será lançado pelo Inca e pela Conicq o Observatório da Política Nacional de Controle do Tabaco. Trata-se de um ambiente online de referência no assunto para diversos setores. No Observatório, o internauta poderá encontrar as mais recentes informações sobre o controle do tabagismo no Brasil, bem como ser direcionado a sites dos órgãos que integram à Conicq.
Na pauta da Reunião de Cúpula da ONU para controle das DCNTs, medidas para redução do tabagismo são consideradas as mais urgentes, prioritárias e viáveis em seu custo. Junto com entidades médicas e outras representações da sociedade civil, a Conicq tem trabalhado para que o Brasil possa levar à reunião a noticia de que o Congresso Nacional aprovou a lei que torna o Brasil 100% livre da fumaça ambiental do tabaco, como já acontece em muitos países e até em alguns estados brasileiros, como São Paulo e Rio de Janeiro.
Durante o Fórum Global da OMS, em Moscou, em abril, a diretora-geral do órgão, Margaret Chan, enfatizou a importância da Convenção, chamando a atenção para uma visão mais crítica das relações entre indústria do tabaco e sociedade.
“O crescimento das Doenças Crônicas Não-Transmissíveis representa um enorme desafio para a saúde pública. Para alguns países, não é exagero descrever a situação como uma catástrofe iminente. Nós podemos compilar bibliotecas cheias de evidências sobre os perigos do tabaco e do fumo passivo, mas são outros os que fazem as leis para o controle do tabaco e as implementam.
Hoje, muitas das ameaças à saúde que contribuem para doenças não-transmissíveis vêm de empresas que são grandes, ricas e poderosas, movidas por interesses comerciais, e muito menos amigáveis para a saúde.
Esqueçam a colaboração com a indústria do tabaco. Nunca confie nesta indústria em nenhuma circunstância, sob qualquer acordo. Implementem a Convenção-Quadro. Assim, podemos evitar cerca de 5,5 milhões de mortes a cada ano. As pessoas não precisam fumar, mas elas precisam comer e beber”, disse Chan.

Nenhum comentário: