segunda-feira, 23 de junho de 2008

Vaidade

Parece uma bobagem enorme falar de vaidade num momento tão difícil na minha vida. Aliás, parece que, quando estamos doentes, as pessoas esperam que esqueçamos que, antes de ser um paciente, somos homens e mulheres que se preocupam com a aparência, que querem estar bem mesmo que seja numa cama, e que sofrem com as implicações que o tratamento contra o câncer acarreta em nosso corpo.
No meu caso, o que mais me incomoda, ou melhor, o que ainda não aceito de forma alguma, é a perda do cabelo. Fazer mastectomia não me afetou tanto quanto eu imaginava. É claro que a perspectiva de ficar sem um seio me assustava, justo eu que sempre me orgulhei de ser “original de fábrica” em meio a tantos silicones que existem hoje desfilando por aí. Foi um duro golpe, mas desde o início tratei de me acostumar à idéia de que vou ter de fazer uma reconstrução, fazer plástica no outro seio, e então tudo ficará bem.
Mas... perder o cabelo está me deixando, com perdão do trocadilho infame, com o “cabelo em pé”. Durante anos tive o cabelo bem curto, estilo “Joãozinho”, e em 2006 resolvi mudar o visual. Até crescer do jeito que eu queria demorou... Além de pouco, meu cabelo é fino, o que dificulta ainda mais o crescimento. Nunca havia dado muita bola para isso e, somente o ano passado, aos 35 anos, é que comprei o primeiro secador para mim. Antes, deixava secar naturalmente, e de repente me vi todos os dias preocupada em deixar as madeixas com uma aparência legal.
E então soube que ia ficar careca. Muita gente que ler isso pode estar pensando “puxa, mas que bobagem!”, mas eu digo que é fácil a gente pensar assim quando não está na situação de quem vai ficar careca. E eu, particularmente, tenho um problema sério quando encontro alguém em algum lugar público que sei que está careca por causa de quimio. Não que eu ache que a pessoa não tem direito de estar na rua, muito pelo contrário, mas sim porque sei como essa pessoa está se sentindo e, por mais que não queira, me pego sentindo pena do que ela está passando. E não quero, em hipótese alguma, que alguém sinta pena de mim.
Para remediar o que não tem remédio, mandei fazer uma peruca. Não é a mesma coisa, é claro, mas pelo menos minha vaidade boba, que hoje está se manifestando com tanta força, ficará menos abalada. E um consolo eu tenho: cabelo cresce. Pode demorar, mas como acredito que ainda tenho muitos anos de vida pela frente, isso não é problema!

Um comentário:

Anônimo disse...

déa... vc é impressionante... sempre com essa garra e esse bom humor... parabéns... e uma excelente semana pra vc... with love, maga