terça-feira, 26 de março de 2013

Seis meses de liberdade



Há pouco mais de 20 dias escrevi aqui que iria fazer meus primeiros exames do ano e que dessa vez estava com medo. Penso que muitas vezes, quando tudo está indo bem, começamos a temer que algo dê errado. Talvez esse sentimento seja comum a pessoas que tiveram câncer, por isso estava apreensiva.
Depois de feitos os exames, hoje fui levar os resultados a minha quimioterapeuta. Doutora Ana já entrou na sala sorrindo, perguntando o que eu estava fazendo que havia emagrecido dois quilos. Para quem estava acompanhando minha subida estratosférica na balança, ver os quilos diminuírem deve ser uma satisfação, afinal, ela me conhece há cinco anos, e desde então me pedia para emagrecer, pedido esse que acaba sendo sempre ignorado.
Mas a melhor notícia de todas veio quando ela disse que eu volto agora apenas em setembro. Para quem estava fazendo exame de três em três meses até o ano passado, ampliando depois o prazo para quatro, a mudança para seis é como um salto entre um continente e outro. Isso ainda veio acompanhado da possibilidade de, a partir de outubro, quando se completam cinco anos da minha alta, esse prazo ser ampliado para apenas uma visita anual ao Centro do Câncer.
Estou imensamente feliz em saber que tenho seis meses de total liberdade pela frente, sem ter de pensar em exames. E mais feliz ainda em constatar que essa ampliação significa menos chances de a doença voltar. Sem desmerecer ninguém, mas só quem teve câncer consegue dimensionar a importância disso. Ao sair do Centro, meus olhos estavam marejados - como estão agora - mas de lágrimas de muita felicidade. Só posso agora dizer uma coisa: obrigada, meu Deus, por mais essa maravilhosa bênção em minha vida!

domingo, 3 de março de 2013

Primeiros exames do ano



Amanhã faço meus exames de rotina pela primeira vez em 2013. E este ano é um marco para mim, porque em outubro completo cinco anos de cura da doença, que me atingiu duas vezes.
Não tem como esquecer que em 2008, quando estava chegando aos cinco anos tão esperados, o câncer voltou com toda a força. E isso me dá medo. Um medo talvez até irracional de que novamente a doença retorne quando fizer cinco anos de cura. Mas ao mesmo tempo um medo compreensível, afinal, quem já passou por isso apenas uma vez entende muito bem o que sinto. Quem passou duas, então, pode chorar comigo. 
Eu deveria estar acostumada, afinal, faço exames a cada quatro meses, e raramente falo que tenho medo. Costumo brincar que posso morrer de qualquer coisa, menos de câncer. De setembro para cá mudei minha vida em muitos aspectos para me fortalecer e evitar que a doença volte: emagreci, reduzi bastante o consumo de álcool (não que eu bebesse todos os dias, mas uma cervejinha nunca era recusada), quase não como mais farinha branca, e passei a fazer exercícios seriamente. Ainda assim, volta e meia me pego pensando o que mais eu posso fazer para ter certeza de que o câncer não vai retornar.
E aí mora a raiz do medo: não existe nada que me garanta 100% que ele não vai voltar. Mesmo tomando Tamoxifeno, ele pode voltar. Mesmo não bebendo, comendo tudo o mais correto possível, me exercitando, ele pode voltar. O câncer, infelizmente, é uma doença "democrática". Ele não distingue cor, classe social, idade, sexo. Assim como eu, que tive câncer de mama aos 31 e aos 36 anos, tem criança com a doença, tem adulto, jovem, idoso. São outros tipos da doença, mas ainda assim é câncer. E a democracia que a doença tem não nos permite muito questionar "por que eu?". Sempre acreditei que tinha de ser eu, e ponto. Até porque, em outros aspectos, Deus me deu muitas coisas boas, e nunca me perguntei por que eu merecia benefícios.
Agora é torcer para que amanhã tudo continue bem. Já estou com a lista de exames separados, os anteriores na pastinha, a cabeça preparada para a famosa agulhada do exame de sangue que tanto me apavora, porque tenho fobia de agulha. Como sempre, sei que vou fazer tudo em umas duas horas, passar no café da Edna e me dar de presente um pão de queijo e um expresso depois da bateria. Meu alívio já deve começar amanhã mesmo, quando pego os resultados de ultrassom. E, se Deus quiser, vou continuar com os exames limpos, pelo menos do câncer, para o resto da minha vida.