As redes
sociais e sites essa semana foram tomados por uma avalanche de notícias sobre a
atriz Mariana Ruy Barbosa, cuja personagem Nicole, na novela “Amor à Vida”, tem
câncer e, por conta disso, iria ficar careca durante o tratamento. A grande
discussão que tomou conta das redes e sites era: ela deve ou não ficar careca?
Para quem não sabe – eu mesma não sabia – Mariana tem longos cabelos ruivos,
que se tornaram “objeto de desejo” de milhares de mulheres em salões de beleza.
A atriz chegou, inclusive, a recusar R$ 1 milhão para tingir as madeixas, o que
demonstra sua preocupação com esse símbolo de feminilidade tão valorizado pelas
mulheres.
Não assisto
novela e nem sabia quem era Nicole até essa avalanche de notícias sobre ela
cortar ou não o cabelo. Porém, ao ler sobre o assunto e o drama que estavam
fazendo sobre o fato, fiquei pasma em ver como o estigma de uma pessoa ficar
careca por conta do câncer é extremamente forte em nossa sociedade. Para acabar
com a polêmica, o autor da novela, Walcyr Carrasco, anunciou então que ela não
vai mais raspar a cabeça, e que terá uma “história linda” na trama.
Poderia
falar aqui que a atriz mostrou total falta de profissionalismo agindo assim,
afinal, se sabia que sua paciente tinha câncer e iria ficar careca, não podia
no meio do caminho mudar de ideia. Mas se ela resolveu ser apenas mais um
rostinho bonito entre os globais, e não uma profissional como Carolina
Dieckmann – que não hesitou em raspar a cabeça em “Laços de Família”, em uma
cena que marcou na televisão brasileira – não é o ponto principal para mim.
O que me
deixou incomodada com o assunto foi o fortalecimento do estigma de que a mulher
com câncer, se já não bastassem todos os problemas da doença, ainda tem de
lidar com a perda dos cabelos, o que mexe bastante com sua autoestima. Milhares
de mulheres assistem novela, muitas delas passando pelo câncer nesse momento.
Ao invés de ajudá-las a superar esse estigma, o autor preferiu reforçar um
preconceito já existente.
Walcyr
Carrasco demonstra, com sua atitude, que ficar careca é a pior coisa do mundo.
"Belo" exemplo a tantas mulheres que passam por quimioterapia e,
diferente de uma novela, não têm a opção de manter seus cabelos. Um total
desserviço às mulheres que sofrem com essa doença que já tantos estigmas nos
traz! E falo "nos" porque, como ex-paciente de câncer de mama, sei
como é duro enfrentar a queda dos cabelos. Claro que não é o principal durante
o tratamento, até porque cabelo cresce de novo, mas ainda assim é um baque
tremendo, difícil de ser aceito e que nos deixa mais deprimidas ainda quando
estamos doentes. Walcyr Carrasco poderia ter feito a diferença, mas decidiu
fortalecer um estigma difícil de ser enfrentado.