terça-feira, 31 de maio de 2011

Dia Mundial Sem Tabaco

Importante matéria divulgada pelo Inca (Instituto Nacional do Câncer). Apesar de meio longa, traz informações importantes e pertinentes sobre o assunto.

Oito em cada dez homens que morrem por doença respiratória crônica no Brasil são fumantes

Índice é superior à média mundial, de cinco óbitos em dez. Ao todo, um milhão de fumantes sofrem de quadro crônico de males respiratórios no País.

A participação do tabagismo na mortalidade por doenças respiratórias crônicas entre os brasileiros está acima da média mundial: oito em cada dez homens que morrem por esses males são tabagistas.
Entre as mulheres, são seis óbitos a cada dez. A média mundial é de cinco em cada dez óbitos entre os homens e dois em cada dez entre as mulheres. Além disso, um milhão de fumantes brasileiros, de ambos os sexos, jovens e idosos, convivem com alguma doença respiratória crônica, associada ao ato de fumar.
Os dados, levantados pela Pesquisa de Tabagismo (suplemento dedicado à Saúde dentro da PNAD 2008), estão sendo divulgados em um estudo especial realizado pelo Inca (Instituto Nacional de Câncer), como parte da celebração do Dia Mundial sem Tabaco, que este ano tem a CQCT (Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco) como tema central. A CQCT é um tratado internacional da OMS (Organização Mundial da Saúde), assinado por 172 países, que se comprometeram a implementar suas determinações para reduzir o consumo do cigarro e demais derivados do tabaco.
O estudo revelou que os fumantes a partir dos 30 anos, grupo que pode ser diagnosticado com doenças respiratórias crônicas dentro do recorte estudado, sofrem 40% mais com essas doenças, se comparados aos não-fumantes.
As doenças respiratórias crônicas representam hoje a terceira causa de mortalidade por doença no Brasil, ficando atrás apenas dos problemas cardiovasculares e dos cânceres. Somente no ano de 2008, cerca de quatro brasileiros morreram a cada hora por complicações respiratórias crônicas.
“Ao levantar as informações estatísticas, é importante alertar que o tabagismo não está associado somente ao câncer. Os números demonstram que os brasileiros mais dependentes da nicotina dificilmente conseguem deixar de fumar, mesmo após serem diagnosticados como portadores de males respiratórios crônicos, agravando seu quadro de saúde”, diz a coordenadora da Divisão de Epidemiologia do Inca, Liz Almeida.
O médico pneumologista da Divisão de Controle do Tabagismo do Inca, Ricardo Meirelles, afirma que mesmo que esses males sejam incuráveis, o primeiro passo a ser dado, a partir do diagnóstico confirmado, é procurar um serviço de saúde para entrar num programa de cessação do fumo. “O tratamento é oferecido pelo SUS (Sistema Único de Saúde), mas é importante que o doente esteja disposto a parar de fumar”, diz o médico.
As informações também apontam um novo tópico para a pauta da Reunião de Cúpula da ONU (Organização das Nações Unidas), que será realizada em setembro deste ano, em Nova Iorque, e tem como mote o enfrentamento das DCNTs (Doenças Crônicas Não-Transmissíveis). A ONU recomendou aos seus países-membros que incluam diabetes, problemas cardiovasculares, doenças respiratórias crônicas e o câncer entre os temas do encontro, já que as DCNTs são consideradas um entrave para o alcance das Metas do Milênio. Essas doenças são responsáveis por 60% das mortes em todo o mundo, ou 35 milhões de óbitos por ano. Desses, 80% ocorreram em países em desenvolvimento.
“No Brasil, o tabagismo se concentra na população de menor renda e escolaridade. Isso faz com que essas pessoas fiquem sob maior risco de desenvolver Doenças Crônicas Não-Transmissíveis, dentre elas as doenças respiratórias crônicas, que muitas vezes as tiram do mercado de trabalho e as inserem em um ciclo vicioso de pobreza”, destaca o diretor-geral do Inca, Luiz Antônio Santini.
O Inca também constatou que os dependentes severos da nicotina, quando comparados aos tabagistas leves, sofrem mais de problemas como enfisema e bronquite (85% a mais). Ou seja: além de serem vítimas de males respiratórios e terem menor adesão ao tratamento, também têm maior dificuldade de parar de fumar, uma vez que utilizam o cigarro de forma mais intensa.
“Os problemas respiratórios crônicos são doenças que, apesar de terem controle medicamentoso, não são curáveis e, no caso dos fumantes, o quadro pode se agravar, já que a fumaça inalada piora o estado de saúde do doente, por isso a importância de deixar o cigarro de vez”, explica a coordenadora da Divisão de Controle do Tabagismo do Inca, Valéria Cunha.

Tabagismo passivo

Um estudo da OMS, divulgado no final do ano passado, sobre mortalidade devido ao tabagismo passivo em todo o mundo mostrou que, no Brasil, morrem cerca de 7,5 mil brasileiros todos os anos devido a essa exposição altamente evitável. Um exemplo que deveria começar em casa: pais tabagistas de crianças e jovens portadores de asma, doença mais presente na infância, passam para seus filhos cerca de 4,7 mil substâncias nocivas presentes na fumaça do cigarro.
“Crianças que sofrem de asma, filhos de pais fumantes e que são expostas à fumaça do cigarro estão mais propensas a ter crises de falta de ar, chiado no peito e tosse”, explica o pneumologista do Inca, Ricardo Meirelles.
O médico alerta ainda que o tratamento deve ser permanente, com cuidados relativos à administração das medicações e com o ambiente: “Os pais que fumam e têm um filho asmático devem saber que além de prejudicar seu organismo estão afetando diretamente a saúde dessa criança”.
No caso das gestantes tabagistas, o risco é dobrado: fazem mal à própria saúde e à do bebê. “Um cigarro fumado pela gestante aumenta os batimentos cardíacos do feto, devido ao efeito da nicotina associado ao monóxido de carbono, diminuindo a oxigenação”, explica Meirelles.
A pesquisa mostrou, ainda, que os adultos não-fumantes moradores de áreas urbanas e expostos ao tabagismo passivo tiveram alto índice de diagnóstico de doenças respiratórias crônicas: 30% a mais do que aqueles que não foram expostos à fumaça do tabaco.

Convenção-Quadro para Controle do Tabaco

Como parte das celebrações do Dia Mundial Sem Tabaco, a OMS orientou os países-membros a promoverem a Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco, destacando os benefícios de sua aplicação na saúde das pessoas. Com o tema “Três maneiras de salvar vidas”, enfatizou o trabalho de bombeiros e salva-vidas, associando-o às diretrizes da Convenção-Quadro e contrapondo-os aos malefícios do tabaco. No Brasil, o órgão responsável pela implementação da CQCT é a Conicq (Comissão Nacional para Implementação da Convenção-Quadro), que engloba 17 ministérios, já que os desdobramentos do tabagismo vão além do setor saúde. A secretaria-executiva da Conicq é ocupada pelo Inca.
O Congresso Nacional ratificou a adesão do Brasil à CQCT, em 2005. Grande parte das medidas da Convenção-Quadro já estavam implementadas no País na ocasião, o que hoje se traduz em resultados positivos, como a redução da mortalidade por doenças cardiovasculares, respiratórias crônicas e por câncer de pulmão entre homens. De acordo com a Vigitel (Pesquisa Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico), do Ministério da Saúde, o número geral de fumantes caiu nas capitais do País de 16,2% para 15,1%, entre os anos de 2006 e 2010. Apesar disso, o trabalho do país no controle do tabagismo é constante, já que ainda há determinações da CQCT para serem colocadas em prática.
“Uma das iniciativas é promover o aperfeiçoamento da Lei 9.294/96, que embora proíba fumar em recintos coletivos fechados, permite a existência de fumódromos. A Convenção-Quadro recomenda a total proibição do ato de fumar em recintos coletivos fechados como a melhor forma de proteção contra o tabagismo passivo. Acumulam-se estudos sobre os efeitos positivos das leis “ambientes 100% livres da fumaça de tabaco” para a redução das internações por doenças cardiovasculares em vários países que já a implementaram. No entanto, o projeto de lei do Senado Federal nº 315 que atende a esses objetivos e que lá tramita, desde 2008, ainda não foi votado, apesar de ter recebido parecer favorável nas comissões de Constituição e Justiça e de Assuntos Sociais”, considera a secretária-executiva da Conicq, Tânia Cavalcante.
Para marcar a data, será lançado pelo Inca e pela Conicq o Observatório da Política Nacional de Controle do Tabaco. Trata-se de um ambiente online de referência no assunto para diversos setores. No Observatório, o internauta poderá encontrar as mais recentes informações sobre o controle do tabagismo no Brasil, bem como ser direcionado a sites dos órgãos que integram à Conicq.
Na pauta da Reunião de Cúpula da ONU para controle das DCNTs, medidas para redução do tabagismo são consideradas as mais urgentes, prioritárias e viáveis em seu custo. Junto com entidades médicas e outras representações da sociedade civil, a Conicq tem trabalhado para que o Brasil possa levar à reunião a noticia de que o Congresso Nacional aprovou a lei que torna o Brasil 100% livre da fumaça ambiental do tabaco, como já acontece em muitos países e até em alguns estados brasileiros, como São Paulo e Rio de Janeiro.
Durante o Fórum Global da OMS, em Moscou, em abril, a diretora-geral do órgão, Margaret Chan, enfatizou a importância da Convenção, chamando a atenção para uma visão mais crítica das relações entre indústria do tabaco e sociedade.
“O crescimento das Doenças Crônicas Não-Transmissíveis representa um enorme desafio para a saúde pública. Para alguns países, não é exagero descrever a situação como uma catástrofe iminente. Nós podemos compilar bibliotecas cheias de evidências sobre os perigos do tabaco e do fumo passivo, mas são outros os que fazem as leis para o controle do tabaco e as implementam.
Hoje, muitas das ameaças à saúde que contribuem para doenças não-transmissíveis vêm de empresas que são grandes, ricas e poderosas, movidas por interesses comerciais, e muito menos amigáveis para a saúde.
Esqueçam a colaboração com a indústria do tabaco. Nunca confie nesta indústria em nenhuma circunstância, sob qualquer acordo. Implementem a Convenção-Quadro. Assim, podemos evitar cerca de 5,5 milhões de mortes a cada ano. As pessoas não precisam fumar, mas elas precisam comer e beber”, disse Chan.

domingo, 22 de maio de 2011

Câncer nas mulheres afeta órgãos do aparelho reprodutor e mama

O câncer é uma das doenças com maior incidência de morte no mundo e apesar da evolução da medicina, a cura em casos avançados parece longe de acontecer. No entanto, hoje existem muitos tratamentos bem sucedidos e que não eram considerados possíveis no passado. Na população feminina, o câncer ocorre mais frequentemente na mama, em seguida no colo do útero, corpo do útero e mais raramente no ovário e vulva.
Desde a primeira menstruação, é recomendável que a mulher crie o hábito de consultar um ginecologista regularmente, cuidando dessa forma da sua saúde. Essa atitude é essencial para prevenir doenças e também faz com que ela aprenda a se conhecer melhor, podendo identificar os primeiros sintomas quando alguma coisa estiver errada. Com o acompanhamento médico, é mais fácil identificar o câncer na fase inicial e não apenas em estágios avançados.
De acordo com o Dr. Fábio A. A. Muniz, especialista em Ginecologia e Obstetrícia do Hospital e Maternidade São Cristóvão, apesar da maior incidência de câncer na mulher ser o de mama, todos os órgãos do aparelho reprodutor feminino podem desenvolver a doença e cada tem um tratamento específico indicado pelo médico especialista. “As principais características que definem a agressividade de um tumor, em geral, são o tamanho no momento do diagnóstico e a presença de metástases, que são focos a distância do tumor primário”, afirma.
Toda mulher pode desenvolver um câncer do sistema reprodutor ou da mama e algumas características podem sugerir um maior risco, sendo assim a consulta com seu ginecologista é a maneira mais adequada para se informar e definir estratégias de prevenção.

Saiba mais sobre cada tipo de câncer feminino:

Câncer de Mama – Mulheres com histórico familiar de câncer de mama (mães e irmãs que foram acometidas antes dos 50 anos) apresentam maior chance de desenvolver a doença. Primeira menstruação precoce, menopausa tardia (após os 50 anos), primeira gravidez após os 35 anos, não ter tido filhos, excesso de peso e a ingestão de álcool (mesmo que em quantidade moderada) também são fatores de risco.
Em relação aos sintomas podem surgir alterações da pele que recobre a mama, como abaulamentos ou retrações, inclusive no mamilo, ou aspectos semelhantes à casca da laranja. Secreção que mancha o sutiã, de um lado apenas, também é um sinal de alerta. Quando palpável um nódulo (caroço) no seio, geralmente indolor, deve ser esclarecido sua origem. E estes podem ainda surgir na axila. Muitos casos não apresentam sintomas ou sinais e só aparecem na mamografia. Este é o principal exame para se detectar precocemente o câncer de mama. O tratamento deve ser individualizado para cada caso, podendo ser realizada cirurgia, radioterapia, quimioterapia ou hormonioterapia dependendo do estágio do câncer. É importante salientar que em situações de cirurgias mutiladoras pode se reconstruir a mama com técnicas de cirurgia plástica, permitindo um tratamento menos agressivo.

Câncer de Vulva – Os cânceres de vulva são tumores que se originam nas estruturas externas do trato reprodutor e acometem geralmente mulheres menopausadas. Podem ser visualizados e palpados como nódulos ou úlceras incomuns localizados próximos ou no orifício da vagina. Algumas vezes ocorrem placas descamativas ou alterações da cor.
Normalmente, o prurido é o primeiro sintoma, com seu aparecimento em 60% dos casos de câncer de vulva. O diagnóstico definitivo é feito por meio de biópsia e estudo histopatológico das amostras de tecido da lesão. Em geral, o tratamento é cirúrgico e radioterápico.

Câncer de ovário – Fatores hormonais, ambientais e genéticos estão relacionados com o aparecimento do câncer de ovário, além do histórico familiar. Ter tido câncer de mama, útero ou colorretal ou nunca ter engravidado também aumenta o risco de desenvolver a doença. A presença de cistos no ovário, bastante comum no dia a dia, não deve ser motivo para pânico. Na fase inicial, o câncer de ovário não causa sintomas específicos. À medida que o tumor cresce, pode causar pressão, dor ou inchaço no abdômen, pelve, costas ou pernas, náusea, indigestão, gases, prisão de ventre ou diarreia ou cansaço constante. Outros sintomas, apesar de menos comuns, também podem surgir, como necessidade frequente de urinar e sangramento vaginal. Diversas modalidades terapêuticas podem ser oferecidas como tratamento (cirurgia, radioterapia ou quimioterapia).

Câncer de colo de útero (cervical) - A idade média do diagnóstico é de 45 anos, mas a doença tem sido encontrada em mulheres de 20 a 30 anos. A infecção persistente pelo papiloma vírus humano (HPV) tem papel importante no desenvolvimento do câncer do colo de útero. Importante salientar que atualmente já existe vacina para este vírus. Os principais fatores de risco estão relacionados ao início precoce da atividade sexual e múltiplos parceiros. Deve-se evitar o tabagismo, pois está diretamente relacionado à quantidade de cigarros fumados.
Nas etapas iniciais do câncer de colo de útero (cervical) não há sintomas que começam a aparecer em fases mais avançadas do tumor. A ausência de sintomas faz com que a pessoa não suspeite da doença e retarde a visita ao médico. O exame de Papanicolau ainda é principal para prevenção deste tipo de câncer. Entre os tratamentos mais comuns estão a cirurgia e a radioterapia. Mulheres diagnosticadas precocemente, se tratadas adequadamente, têm praticamente 100% de chances de cura

Vamos doar medula óssea?

Levantamento do INCA traça perfil dos 2 milhões de doadores voluntários cadastrados

O Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea (Redome), gerenciado pelo Instituto Nacional de Câncer (Inca), traçou o perfil dos 2 milhões dos doadores voluntários no Brasil. O levantamento revelou que as mulheres lideram o cadastro como voluntárias (56%) e que 88% dos doadores têm menos de 45 anos, o que amplia a permanência dos voluntários no cadastro. A pesquisa também apontou que a Região Sudeste possui 48% dos doadores, seguidos por 25% do Sul e 14% do Nordeste. No Centro-Oeste, o total é de 8% e no Norte estão 5% dos cadastrados do país.
A Região Sudeste continua a ser a que mais tem doadores de medula óssea no Brasil, mas já se detecta uma tendência ao equilíbrio: Rio de Janeiro, São Paulo, Espírito Santo e Minas Gerais agora têm menos da metade dos cadastrados no Redome. Há cinco anos, a região era responsável por 57% dos doadores. “O levantamento é importante para sabermos em quais regiões é necessário um reforço nas campanhas, tendo em vista que a diversidade genética da população brasileira é muito vasta”, esclarece o diretor do Centro de Transplante de Medula Óssea do Inca e coordenador do Redome, Luís Fernando Bouzas.

Milhões de doadores voluntários

A marca de 2 milhões de pessoas cadastradas no país, motivada por campanhas de sensibilização promovidas pelo Ministério da Saúde e o Inca, em parceria com os hemocentros dos Estados, aumenta as chances de pacientes aguardando transplante de medula óssea. Desde que começou a ser gerenciado pelo Inca, há 11 anos, o Redome teve um aumento de 16.000% no número de cadastrados. Houve um aumento de 240% (2003-2009) no número de transplantes não-aparentados. “Em 2010, 67% dos transplantes foram realizados com material encontrado no Redome. Dos 167 transplantes de medula óssea não-aparentados (que utilizam doações voluntárias), 87 pacientes contaram com doadores nacionais. Hoje, há cerca de 1.200 pessoas aguardando por um doador compatível”, informa Bouzas.
Pensando no aprimoramento na área de transplantes de medula óssea - cada vez mais em expansão – nesse mês um novo sistema de cadastramento no Redome está sendo implantado em todo o Brasil. Desenvolvido pela equipe de Tecnologia da Informação da Fundação do Câncer, o sistema vai utilizar a tecnologia web e será gerenciado pelos hemocentros e laboratórios de histocompatibilidade (responsáveis pelos exames de compatibilidade). Cada instituição terá acesso ao seu banco dados: os hemocentros vão inserir as informações cadastrais dos doadores, enquanto os laboratórios entram com o resultado do exame. O número de identificação do doador será único, indicado logo no início do cadastro. O sistema vai evitar que haja duplicidade de entrada de doadores e será possível atualização do cadastro pelos profissionais dos hemocentros.

Veja como se tornar um doador de medula óssea:
http://www1.inca.gov.br/conteudo_view.asp?ID=64

Câncer é hereditário?

Oi pessoal!

Interessante texto a respeito da hereditariedade do câncer. Importante lembrar sempre que, para evitar a doença, o principal é sempre a prevenção e exames periódicos.

Bom domingo a todos!

Câncer é hereditário?

Uma pergunta frequente nos consultórios médicos: o câncer é hereditário? O que precisa ficar claro, antes de tudo, é que o câncer é uma doença que resulta da interação entre fatores ambientais e genéticos do indivíduo. Entretanto, uma parcela pequena dos tumores malignos são considerados hereditários (até 10%). “A maioria está relacionada à exposição a fatores ambientais, como tabagismo, hábitos alimentares, infecções, exposição solar, etc”, destaca Dr. Amândio Soares, médico oncologista e diretor da Oncomed Belo Horizonte.
É importante enfatizar que o câncer resulta do crescimento desordenado das células e dos tecidos por motivos muitas vezes desconhecidos. O tecido canceroso apresenta uma estrutura atípica dos tecidos e órgãos de que se originou, e uma capacidade ilimitada e incontrolável de se reproduzir. Seu desenvolvimento não obedece a nenhuma finalidade útil ao organismo. “O tumor tende a se disseminar e a lançar metástases (focos secundários, à distância) para várias partes do corpo, onde então continuam a se desenvolver”, reforça Amândio.
Alguns tipos de câncer estão diretamente relacionados a fatores ambientais, como o câncer de pulmão, associado ao hábito de fumar, e o câncer de pele, vinculado à excessiva exposição ao sol. Outros tipos, como o câncer de mama, podem estar relacionados a questões hereditárias, podendo ser passado, por exemplo, de mãe para a filha.
Quando a propensão genética é constatada, a pessoa deve tomar precauções para prevenir a doença. Dr. Amândio alerta que quem herda a predisposição para câncer de cólon, por exemplo, tem probabilidade de desenvolvê-lo e, por isso, deve se submeter, anualmente, a uma endoscopia para identificar pequenas deformações do tecido, evitando que elas evoluam para o câncer. “É importante que as pessoas saibam que muitos tipos de câncer podem ser curados, desde que diagnosticados em fases iniciais. Por isso, é fundamental realizar exames periódicos”, afirma.
Se um câncer é diagnosticado antes que saia do seu lugar de origem é muito mais provável que o tratamento tenha sucesso. Por exemplo, com a popularização da mamografia, as mortes por câncer de mama foram reduzidas em 30%. A mamografia de alta definição é capaz de perceber tumores de meio milímetro. Detectados nessa fase, 90% deles têm possibilidade de cura.
Portanto, sendo hereditário ou não, é importante procurar o médico caso diagnosticado qualquer alteração no organismo.

quinta-feira, 12 de maio de 2011

Beber café pode reduzir em 57% chance de ter câncer de mama

Como eu amo café, não ia deixar essa notícia passar batida:

Beber cinco xícaras de café por dia pode ser mais saudável do que se pensa. Após analisarem seis mil mulheres que já haviam entrado na menopausa, especialistas da Karolinska Institute de Estocolmo descobriram que mulheres que bebem café têm 57% menos chances de desenvolver câncer de mama, como divulgou o jornal britânico Daily Mail de ontem.
Cinco xícaras ajudam a proteger contra tumor maligno. O café seria um aliado na redução da absorção de receptores de oestrogênios causadores do câncer de mama maligno. Os pesquisadores disseram acreditar que o café possui diferentes compostos que colaborem com o combate de outros tipos de câncer de mama, mas outros estudos ainda precisam ser feitos.
Na Universidade do Missouri (EUA), os cientistas descobriram que algumas frutas e nozes ricas em apigenina também seriam capazes de reduzir significamente a formação de tumores de mama em ratas.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Tese de doutorado: “Mulheres e câncer de mama: experiência e biografia cindidas”

Muito boa essa tese de doutorado. Por mais duro que seja, ainda assim posso agradecer por ter tido a chance de fazer o tratamento com bons médicos, tudo pago pelo convênio. Realmente, é lamentável vermos o quanto a sociedade, e as próprias mulheres, acabam discriminando aquelas que têm o câncer de mama.

Os estigmas (e a ‘ruptura biográfica’) que marcam as pacientes com câncer de mama

Socióloga acompanha portadoras da doena em hospital público de Brasília

ISABEL GARDENAL

Estudo de doutorado desenvolvido na Faculdade de Ciências Médicas (FCM) com mulheres portadoras do câncer de mama mostrou que o estigma da doença continua marcando com sofrimento a vida delas, pois as pessoas vão logo associando-o com a morte. A autora da investigação, Maria Inez Montagner, apontou que já é hora de encarar a doença em seus aspectos social e cultural, não somente biomédico. Na área de Biomedicina, já existem muitas pesquisas e drogas sendo produzidas e elas têm desempenhado o seu importante papel, diz. “Mas é preciso buscar o corpo saudável com o menor impacto possível ao paciente. Isso porque, nos moldes atuais de intervenção, muitas mulheres se sentem mutiladas. E cura para elas tem outro significado”, defende. “Temos que começar a avaliá-las no seu grupo de pertencimento e tentar fazer com que isso se transforme em leis e em melhores condições para elas serem levadas ao centro de saúde mais rapidamente.”

Para chegar a essas conclusões, a socióloga realizou um trabalho de campo no Hospital de Base do Distrito Federal (HBDF), o segundo maior hospital em número de leitos do Centro-Oeste do país. Sua finalidade foi ouvir as pacientes que chegam ao local com uma suspeita: será que o que eu tenho é câncer? Maria Inez procurou compreender o sofrimento de 19 portadoras de câncer de mama que não tinham plano de saúde e que dependiam unicamente do Sistema Único de Saúde (SUS) para fazer o diagnóstico, os exames e o tratamento. A doutoranda argumenta que as mulheres não vão chegar com rapidez ao centro de saúde enquanto elas souberem que demora o atendimento, que esse tratamento é doloroso e que elas vão morrer. “Chega disso. É necessário dizer-lhes que somente irão morrer se não tratarem o câncer.”

Outros objetivos também foram vislumbrados pela pesquisadora, como a relação das mulheres com o lado profissional porque, uma vez retirados os linfonodos, elas dificilmente podem fazer trabalhos braçais. E, em sua grande maioria, as entrevistadas desempenhavam este tipo de trabalho. Por conseguinte, elas perdiam o emprego. A pesquisa também avaliou a relação dessas mulheres com o sistema de saúde: como elas viam esse sistema como um todo?, como viam a organização? e como percebiam sua relação com os médicos? A autora explica que não tentou estudar os médicos e as pacientes, mas a experiência delas com o médico e a sua fala. “Este é um mundo novo principalmente para as pacientes pouco letradas, que desconhecem vocábulos do jargão médico e determinados procedimentos, os quais nem de longe suspeitam o que representam.”

Maria Inez conta que iniciou sua abordagem às pacientes na sala de espera do HBDF, que fica localizado praticamente no centro de Brasília, para saber quais eram os seus problemas e quais as soluções e estratégias encontradas para resolvê-los. Para isso, a socióloga dividiu o trabalho em três partes. Ela salientou que a primeira abrangeu a etapa do toque até o diagnóstico, a segunda envolveu o tratamento e, a terceira, a remissão.
Nessa primeira parte, as pacientes chegavam ao hospital sem ter a certeza do câncer, da gravidade da sua doença e da proposta de tratamento. “Eu sentava na sala de espera, as via entrar e perguntava o que elas iam fazer lá dentro, em especial porque eu percebi, depois de um tempo de pesquisa, que a palavra câncer nem sempre é tão natural de ser pronunciada nos primeiros momentos”, relata a socióloga.

Quando elas saíam da sala de consulta, as pacientes retornavam dizendo que o médico tinha confirmado que o problema era o ‘danado’, ‘ele’, ‘a coisa’, ‘o mal’. “Raramente nos primeiros encontros elas verbalizavam que estavam com câncer, mesmo porque muitas delas não o encaravam como doença. Uma das entrevistadas falou: ‘eu não sou doente; olhe os meus exames; eu só tenho câncer’”.

Assim, nos primeiros atendimentos, elas tinham dificuldade até de entender o que estava havendo. Porém sabiam que, num segundo momento, essa incerteza se transformaria em certeza e em ações. Entendiam que teriam que fazer o tratamento e que ele era 100% medicalizado. Compreendiam que o chazinho ensinado pelas mães pararia por ali. Começaria então o tratamento com todas as dificuldades do SUS.

Alguns casos iniciam pela quimioterapia, pelo fato de o tumor estar excessivamente grande, para depois recorrer à cirurgia. Em outros casos ocorre o inverso. Fato é que a pesquisadora comenta que, no dia seguinte à cirurgia, estava com as pacientes. “Eu as via acordar e via o sofrimento pela perda da mama.” Nessa segunda fase – o momento do tratamento –, o verbo mais empregado pelas mulheres era ‘perder’ (na fase anterior, a palavra mais usada era ‘medo’). Elas perdiam o marido, o emprego, os cabelos, as mamas, a movimentação dos braços e a feminilidade. A reestruturação de suas vidas aconteceria num terceiro momento, quando o tratamento propriamente dito terminaria e elas teriam de voltar para as suas vidas cotidianas.

A despeito disso, elas não recebem alta de pronto, porém uma certeza é muito nítida: a parte mais drástica já foi feita. É a “ruptura biográfica”, conceito utilizado por Maria Inez, auxiliada pelo pesquisador inglês Michael Bury. É quando o diagnóstico de uma doença grave instaura uma ruptura na trajetória de vida da paciente, a partir da qual as suas expectativas são ressignificadas.

“Passei a compreender que essa é uma mudança na identidade da mulher, uma vez que o que a define como tal é a mama. É assim que ela se vê: ‘eu sou mulher porque tenho seios’”, realça a socióloga. E de repente se veem sem eles, sem cabelos e com uma cor horrível pós-quimioterapia. As religiosas então têm um problema maior. É que algumas igrejas cultuam o cabelo como se fosse um véu. E no entanto elas os perdem. “É como se negassem a fé.”

A fase de reestruturação da vida em geral coincide com a fase da remissão da doença, que deve durar cerca de cinco anos, quando elas voltarão algumas vezes ao hospital. Ainda morrem de medo de ter uma metástase ou acham que o câncer pode ir para outra mama, mas compreendem que a vida deverá continuar.

Abordagem
Maria Inez estudou mulheres com câncer de mama nos mais diferentes estágios da doença. A idade das entrevistadas variou entre menos de 40 e mais de 70. No estudo, ela não fala as suas idades porque “existe uma tendência de achar que uma mulher de 65 anos sofre um menor impacto na feminilidade ao perder uma mama do que uma mulher de 30 anos. Depende da mulher de 60”, opina. Há aquelas que já estão com a vida ganha e começam a namorar e a trabalhar, enquanto as de 30 anos estão tão preocupadas em criar os filhos que a mama não é o maior problema delas.

A pesquisadora, mesmo não tendo focado sua atenção aos aspectos epidemiológicos, notou que as pacientes em geral não procuram os médicos de imediato. É que quando elas se tocam e sentem o caroço (as mulheres evitam o termo “tumor”) vão relacionar a sua história com situações do passado, quando eram moças, quando ficaram menstruadas, quando amamentaram. “Então, não vão dar importância a isso nos primeiros meses, somente depois que o caroço crescer”, recorda. Antes terão contatos com pessoas do seu grupo social para saber o que pensam. Algumas recorrem aos sacerdotes ou às benzedeiras antes do médico. Buscam articulações para garantir consultas e exames.

Maria Inez pretendia fazer avaliação do tempo de atendimento no centro de saúde pegando o prontuário médico, para ver quando foi o primeiro atendimento e quando ocorreram os exames prescritos. Este é um cálculo que precisa ser feito, a seu ver. “Verifiquei que infelizmente muitas delas antes de um ano após o toque não procuram o médico.” Além disso, pagam médico particular para ter uma segunda opinião, mamografias e cintilografias para agilizar o processo pois, até serem atendidas, elas percebem que o caroço já cresceu.

Foi surpresa para a doutoranda a culpa que essas mulheres sentiam por achar que tinham negligenciado a saúde, bem como as estratégias para obter o atendimento. “Elas choravam, mudavam de religião e acabavam formando uma nova rede de amizades para conseguir o que queriam.” Outro ponto ainda acentuado pela socióloga na pesquisa tem a ver com a sala de espera. De acordo com a autora da tese, este é um lugar de apoio, mas igualmente de desestímulo, onde diálogos são travados repletos de sentimentos misturados.

Agora, a confiança que essas mulheres tinham no médico, e não no sistema de saúde, também era uma contradição. No fundo, elas sabiam que teriam um bom atendimento. Por outro lado, conviviam com a dúvida se a rede lhes daria o suporte necessário ao tratamento até o fim. O mais cruel para Maria Inez foi que elas não acreditavam no sistema como um direito e sim como um favor.

Na verdade, no HBDF, além do serviço médico, as pacientes têm acesso a uma equipe multidisciplinar e contam com o apoio de duas instituições sem fins lucrativos, instaladas dentro do hospital, para dar-lhes suporte psicológico e emocional, que são o Movimento de Apoio aos Pacientes com Câncer (MAC), que atende todo tipo de câncer; e a Rede Feminina de Combate ao Câncer, que atua somente com mulheres com câncer de mama.

E elas de fato precisam de muito apoio. O estigma do câncer é muito pesado para as mulheres. As entrevistadas expressaram isso. “Quando perdem os cabelos, elas são evitadas dentro do ônibus. Uma mulher disse-me uma coisa brilhante: ‘elas não têm medo do câncer porque é câncer. Têm medo porque câncer mata. Têm medo de tratar a morte, não a vida’”, contextualiza a socióloga.

O tratamento do câncer, por mais invasivo que seja, tem data de validade. A mulher sabe que vai ficar meses no hospital. Só que a vida delas vai ficar como depois disso? É um problema social e econômico seriíssimo para as classes que não têm dinheiro. Uma mulher que trabalha numa casa de família e que começa a faltar porque está com câncer é demitida. Uma delas até comentou que nunca vai dar moda usar lencinho na cabeça para quem tem câncer: “A gente só usa para proteger a cabeça, porque se tem uma moda horrível é a das mulheres de lenço na cabeça”.

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Publicação
Tese de doutorado: “Mulheres e câncer de mama: experiência e biografia cindidas”
Autora: Maria Inez Montagner
Orientadora: Ana Maria Canesqui
Unidade: Faculdade de Ciências Médicas (FCM)
Financiamento: Capes