domingo, 5 de abril de 2009

Um ano

Há exatamente um ano minha vida virou pelo avesso. Quando tudo parecia tão certinho, a notícia que eu tinha um nódulo me fez encarar a perspectiva de estar novamente com câncer, fato que acabou sendo confirmado 10 dias depois. Olhando esse ano que passou, vejo que aprendi muita coisa. O sofrimento fez parte da luta, mas acabou sendo também a mola precursora para que eu fizesse dessa experiência triste uma forma de ajudar outros que passam pelo mesmo problema.
Hoje estou curada. Daqui um mês faço minha última cirurgia e, se tudo estiver certo, em junho volto a trabalhar. Hoje também faz um ano que estou em licença médica. Sinto falta das conversas dos colegas, do desespero de entregar a matéria no prazo, e do companheirismo que sempre senti na redação do jornal. Quando eu voltar, após tanto tempo, acho que será como começar de novo no emprego.
O tempo... O tempo para mim passa um pouco diferente do que para outras pessoas. Quando penso em algum fato passado durante esse período, normalmente ele acaba sendo relacionado a uma das fases do meu tratamento. “Não, nesse dia eu não saí porque estava em repouso da cirurgia”, ou “Ah, lembro porque foi quando terminei a quimioterapia”. Além disso, acabamos marcando o tempo como o intervalo entre cada fase do tratamento. Agora estou no intervalo entre a penúltima e última cirurgia. Após quase quatro semanas, ainda não estou liberada do repouso, não posso fazer esforço nem levantar o braço direito. Quando estiver bem, já entrarei na próxima cirurgia, e esse repouso de agora será feito com o braço esquerdo. Assim, sempre estou entre uma coisa e outra relacionadas ao tratamento.
E, no final de tudo, olhando esse um ano que passou, o resultado é bom. Não tenho mais os seios que tinha antes, ainda acho estranha essa prótese de silicone, mas sei que vou acabar me acostumando com ela. Mesmo porque não tenho outra opção, não é mesmo? Então, lamentar e chorar por algo que não posso mudar não faz mais parte do meu comportamento.
E daqui a um ano, quando olhar para trás, estarei apenas lembrando de uma fase difícil em minha vida, mas durante a qual aprendi muitas coisas. Também vou lembrar do carinho com que meus pais, familiares e amigos me ajudaram a passar por tudo. E, por último, mas não menos importante, vou lembrar que essa fase ruim demorou, acabou e fez surgir dela uma Andréa mais forte e determinada a ser cada dia mais feliz.